quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O Comércio Global em Lenta Recuperação

 Até ontem, 15 países haviam oficializado suas totalizações de comércio exterior de julho ao órgão responsável pelas estatísticas da ONU (CONTRADE). Interessante reparar que das nações em questão, apenas a França, Turquia, República Tcheca, Nova Zelândia e Letônia registraram queda (moderada) de importações na comparação com junho último.

De resto, mês a mês o comércio mundial consolida uma dinâmica de recuperação, com importadores do primeiro time, como EUA, China e Japão, aumentando suas compras internacionais.

Mas no âmbito de uma visão de mais longo prazo, provavelmente julho de 2009 será lembrado como o período no qual as trocas globais chegaram, finalmente, no fundo do poço. Fazendo rápida abstração, o leitor perceberá que na maior parte dos casos, as duas últimas colunas da tabela a seguir mostram que a variação das importações de julho na comparação com o mesmo mês de 2008 é igual à variação das aquisições internacionais dos países frente ao seu apogeu importador.

Isso significa que, na maior parte dos casos, em julho de 2008 chegou-se ao ponto máximo das trocas entre países. Então, a partir de agosto os dados contabilizados começarão a mostrar o arrefecimento da retração do comércio global, já que a base de comparação passará a incluir dados que abrangem o período da crise financeira internacional, especialmente após setembro.



A próxima ilustração é mais esclarecedora: mostra o histórico recente das importações globais e as respectivas variações (crescimento ou queda) frente ao mesmo mês do ano anterior e em doze meses.


E nesse contexto, o primeiro aspecto a ser destacado, é que, de acordo com nossas estimativas, em julho último as importações mundiais ultrapassaram, novamente, a barreira de US$1 trilhão, o que não acontecia desde dezembro do ano passado.

Outra questão importante pode ser observada ao longo do traço laranja, que mede a variação das compras internacionais do globo em comparação ao mesmo mês do ano anterior. O indicador despencou até abril, mas após começou a mostrar interessante tendência de arrefecimento de perdas.

Mesmo assim, impressiona o fato de que em pouco tempo mais de um terço das relações de trocas do planeta simplesmente viraram fumaça por equívocos - hoje reconhecidos de grande ingenuidade - do sistema financeiro dos países mais ricos do mundo. Feita a observação, cabe ressaltar que além da cultura histórica que nos evita repetir besteiras, de nada adianta ficar perdendo tempo com a identificação de mais culpados.

Bem mais importante do que isso é tentar imaginar a recuperação das importações globais. Sabe-se que, em termos absolutos, o fundo do poço ocorreu em fevereiro último, com as compras internacionais fechando em torno de US$ 851 bilhões. Daquela data até julho, observamos um ritmo de crescimento médio mensal das trocas entre países da ordem de 4,4%.

Projetando esse percentual fixo, o apogeu registrado em julho de 2008 seria reconquistado em abril do ano que vem. Entretanto, uma vez que as coisas ainda não estão muito claras ao nível da recuperação da vitalidade da economia mundial, é razoável admitir um percentual mais realista da ordem de 2% ao mês. Nesse caso, a plena recuperação ficaria adiada para fevereiro de 2011.

A não ser que aconteça algo de excepcional (para o bem, ou para o mal), fora dos padrões atualmente conhecidos, o planeta retomará o crescimento real do comércio entre as duas citadas datas; provavelmente com maior proximidade da segunda.


Curtas




1) De acordo com pesquisa da FGV, a expectativa de produção da indústria brasileira para o último trimestre de 2009, em comparação ao período compreendido entre julho e setembro, é a melhor dos últimos 18 anos. Isso é perto do chamado óbvio ululante: afinal, nos três últimos meses do ano a produção das fábricas sempre aumenta para fazer frente ao período de Natal. Também deve se incluir nesse contexto o fato de a base comparativa ser exageradamente deprimida. Recuperar em cima de pouca produção é fácil; difícil será obter resultado positivo frente ao quarto trimestre do ano passado... Em resumo, não há, verdadeiramente, novidades muito relevantes na pesquisa em questão.


2) O PIB dos EUA caiu 0,7% no segundo trimestre de 2009 em relação a igual período do ano passado. Então, até junho o país continuava em recessão. Porém, o percentual esperado era muito pior. No final das contas, essa não deixa de ser uma notícia promissora.


3) Corram! Hoje é o último dia do IPI reduzido para a compra de carros. A recomendação de correr, no entanto, não é para adquirir veículos na concessionária mais próxima; e sim para os locais de aposta: a retomada gradual da incidência do tributo deverá fazer com que a produção das montadoras encolha barbaramente. Os motivos: carro mais caro; antecipação das compras por conta do benefício tributário; diminuição da capacidade de endividamento adicional do consumidor brasileiro; e arrefecimento do processo de renovação da frota nacional de veículos. O mais provável é que o governo federal volte atrás nas medidas reoneração tributária do consumo. A pressão será grande por parte dos metalúrgicos e consumidores; ano que vem tem eleições. Então, alguém muito poderoso provavelmente mandará as favas os planos de Banco Central e Receita Federal de retomar os patamares de arrecadação pré-crise. E tem mais: a economia nacional continua fragilizada. Mais impostos e juros poderá ser um golpe de misericórdia. Estaríamos condenados a caminhar na direção do aprofundamento recessivo.

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