quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O Comércio Global em Lenta Recuperação

 Até ontem, 15 países haviam oficializado suas totalizações de comércio exterior de julho ao órgão responsável pelas estatísticas da ONU (CONTRADE). Interessante reparar que das nações em questão, apenas a França, Turquia, República Tcheca, Nova Zelândia e Letônia registraram queda (moderada) de importações na comparação com junho último.

De resto, mês a mês o comércio mundial consolida uma dinâmica de recuperação, com importadores do primeiro time, como EUA, China e Japão, aumentando suas compras internacionais.

Mas no âmbito de uma visão de mais longo prazo, provavelmente julho de 2009 será lembrado como o período no qual as trocas globais chegaram, finalmente, no fundo do poço. Fazendo rápida abstração, o leitor perceberá que na maior parte dos casos, as duas últimas colunas da tabela a seguir mostram que a variação das importações de julho na comparação com o mesmo mês de 2008 é igual à variação das aquisições internacionais dos países frente ao seu apogeu importador.

Isso significa que, na maior parte dos casos, em julho de 2008 chegou-se ao ponto máximo das trocas entre países. Então, a partir de agosto os dados contabilizados começarão a mostrar o arrefecimento da retração do comércio global, já que a base de comparação passará a incluir dados que abrangem o período da crise financeira internacional, especialmente após setembro.



A próxima ilustração é mais esclarecedora: mostra o histórico recente das importações globais e as respectivas variações (crescimento ou queda) frente ao mesmo mês do ano anterior e em doze meses.


E nesse contexto, o primeiro aspecto a ser destacado, é que, de acordo com nossas estimativas, em julho último as importações mundiais ultrapassaram, novamente, a barreira de US$1 trilhão, o que não acontecia desde dezembro do ano passado.

Outra questão importante pode ser observada ao longo do traço laranja, que mede a variação das compras internacionais do globo em comparação ao mesmo mês do ano anterior. O indicador despencou até abril, mas após começou a mostrar interessante tendência de arrefecimento de perdas.

Mesmo assim, impressiona o fato de que em pouco tempo mais de um terço das relações de trocas do planeta simplesmente viraram fumaça por equívocos - hoje reconhecidos de grande ingenuidade - do sistema financeiro dos países mais ricos do mundo. Feita a observação, cabe ressaltar que além da cultura histórica que nos evita repetir besteiras, de nada adianta ficar perdendo tempo com a identificação de mais culpados.

Bem mais importante do que isso é tentar imaginar a recuperação das importações globais. Sabe-se que, em termos absolutos, o fundo do poço ocorreu em fevereiro último, com as compras internacionais fechando em torno de US$ 851 bilhões. Daquela data até julho, observamos um ritmo de crescimento médio mensal das trocas entre países da ordem de 4,4%.

Projetando esse percentual fixo, o apogeu registrado em julho de 2008 seria reconquistado em abril do ano que vem. Entretanto, uma vez que as coisas ainda não estão muito claras ao nível da recuperação da vitalidade da economia mundial, é razoável admitir um percentual mais realista da ordem de 2% ao mês. Nesse caso, a plena recuperação ficaria adiada para fevereiro de 2011.

A não ser que aconteça algo de excepcional (para o bem, ou para o mal), fora dos padrões atualmente conhecidos, o planeta retomará o crescimento real do comércio entre as duas citadas datas; provavelmente com maior proximidade da segunda.


Curtas




1) De acordo com pesquisa da FGV, a expectativa de produção da indústria brasileira para o último trimestre de 2009, em comparação ao período compreendido entre julho e setembro, é a melhor dos últimos 18 anos. Isso é perto do chamado óbvio ululante: afinal, nos três últimos meses do ano a produção das fábricas sempre aumenta para fazer frente ao período de Natal. Também deve se incluir nesse contexto o fato de a base comparativa ser exageradamente deprimida. Recuperar em cima de pouca produção é fácil; difícil será obter resultado positivo frente ao quarto trimestre do ano passado... Em resumo, não há, verdadeiramente, novidades muito relevantes na pesquisa em questão.


2) O PIB dos EUA caiu 0,7% no segundo trimestre de 2009 em relação a igual período do ano passado. Então, até junho o país continuava em recessão. Porém, o percentual esperado era muito pior. No final das contas, essa não deixa de ser uma notícia promissora.


3) Corram! Hoje é o último dia do IPI reduzido para a compra de carros. A recomendação de correr, no entanto, não é para adquirir veículos na concessionária mais próxima; e sim para os locais de aposta: a retomada gradual da incidência do tributo deverá fazer com que a produção das montadoras encolha barbaramente. Os motivos: carro mais caro; antecipação das compras por conta do benefício tributário; diminuição da capacidade de endividamento adicional do consumidor brasileiro; e arrefecimento do processo de renovação da frota nacional de veículos. O mais provável é que o governo federal volte atrás nas medidas reoneração tributária do consumo. A pressão será grande por parte dos metalúrgicos e consumidores; ano que vem tem eleições. Então, alguém muito poderoso provavelmente mandará as favas os planos de Banco Central e Receita Federal de retomar os patamares de arrecadação pré-crise. E tem mais: a economia nacional continua fragilizada. Mais impostos e juros poderá ser um golpe de misericórdia. Estaríamos condenados a caminhar na direção do aprofundamento recessivo.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Olhando Para o Futuro do Mundo de Amanhã

Está equivocado que fica contemplando sinais de bolsas de valores, taxas de cambio, índices de confiança e outros indicadores do gênero e os encara como sinalizadores do termômetro da economia real. Pior é quem projeta a partir daí o que deve acontecer no futuro.


De fato, as bolsas (especialmente a Bovespa) estão ainda no clima de exacerbação especulativa, iniciado antes da crise financeira mundial. Cedo ou tarde, o valor das ações deve despencar novamente.

Quanto à valorização do real, fica cada vez mais claro que o fenômeno está ligado à entrada de capital externo para especulação no mercado financeiro brasileiro. O efeito colateral é grave para o setor produtivo: fica caro exportar e demasiadamente barato importar... Algum tipo de controle desses recursos ainda só não foi feito em função de o Tesouro Nacional estar escravizado por tais capitais para girar as contas nacionais. Mas isso é outra conversa...


O que importa é a definição de que apenas fatos (dados de emprego, produção, etc.) é que tem o real poder de proporcionar a avaliação do que ocorre no ambiente econômico.

O resto é análise de surto, que pode estar correta ou errada, assim como um número marcado num volante de mega-sena.

Entretanto, pensar no futuro é diferente. Os dados de ações e câmbio também são de pouca valia para isso. O importante é identificar os principais aspectos que estão a transformar a realidade e extrapolá-los para ver onde vai dar.

E nesse ponto, qual será a saída para a crise mundial? Diga-se de passagem, os números financeiros serão apenas a conseqüência de uma dinâmica dando certo ou errado; ou então a manifestação de movimentos especulativos.

Pois bem, historicamente, a economia mundial se expandiu e globalizou por meio do apelo ao consumo de mercadorias. E será a tentação pelos novos produtos que farão com que a humanidade supere os atuais entraves e continue sua rota de aumento de riqueza. As dívidas que os governos fizeram para conter a crise global só se tornarão pagáveis na medida em que suas respectivas sociedades gerarem produtos que alavanquem direta ou indiretamente a arrecadação de impostos (sobre a renda e/ou produtos).

Então, o país, a empresa, ou a pessoa que mais inovar e agradar com novos produtos é que terá a prerrogativa de liderar a retomada do comércio global.

Mas existem alguns focos genéricos, que podem vir a se tornar pré-requisitos nas relações comerciais e inter-pessoais do futuro em uma escala de tempo mais breve do que imaginávamos há dois ou três anos.


Nesse âmbito, vale reproduzir o resultado de pesquisa feita pela consultoria Gartner, especializada em tecnologia. Segundo estudo feito por essa empresa, até o final do ano, nada menos do que 20% das casas do mundo estarão conectadas à internet, por banda larga. Está se falando em 422 milhões de casas (10% a mais do que no ano passado). Ainda, segundo a Gartner, em 2013, esse número deve cruzar a barreira dos 580 milhões.

Mas o número para 2009 indica que não menos do que 1,3 bilhão de pessoas estão conectadas à rede mundial de computadores. Seguramente, esse público é composto pelas pessoas de maior poder de consumo e geração de renda. E a tendência é a popularização veloz desse (ainda) novo meio de comunicação.


Sim, mas o que isso significa? Ora, hoje se compra, vende, fala, trabalha e até namora pela internet. Os escritórios virtuais estão em franco desenvolvimento; e cada vez mais o processo produtivo intelectual deixa de ser feito em escritórios de empresas. Isso é burrice; custa caro; e além de tudo vai contra as necessidades de se racionalizar o espaço urbano por motivos ambientais e de combater o congestionamento das principais cidades do mundo.


Em resumo, se mesmo com a crise o mercado de acesso à internet não parou de crescer a taxas anuais superiores a 10%, não será nos próximos anos que esse movimento terá arrefecimento. E os efeitos práticos?


Bem, o comércio virtual continuará crescendo; isso é certo!

Outro aspecto importante está na mudança das relações sociais, o que já está ocorrendo com o amplo crescimento de comunidades virtuais. Só que esse virtual toma formas cada vez mais realistas sem, no entanto, serem tangíveis.

Por exemplo, desenvolver trabalhos em grupo através de conferencias já está quase tão eficaz como reuniões reais de equipes, com a vantagem de que cada um dos participantes fica bem mais à vontade (sem ter que encarar eventuais maus odores... mas também, por outro lado, pode acabar deixando de ter alguma história mais picante...).


Essa também é a solução para deixar de enfrentar 6 horas diárias de trânsito em metrópoles lotadas como São Paulo e outras do gênero. Poupa-se tempo, economiza-se combustível, além de servir às causas ambientais, pela redução de emissão de CO2.



Tudo isso está se mostrando economicamente mais viável do que a velha forma de ser. Sair de casa, será cada vez mais uma atividade ligada ao lazer. E nesse contexto, não faltam serviços e bens a serem lançados no mercado, dentro dessa nova lógica de relações humanas, através de uma tela.

Tal cenário, provavelmente colocará em cheque algumas indústrias (no conceito amplo) que simbolizaram a humanidade no século XX. Os carros, por racionalidade e pressões ambientais (antes de ser uma questão de consciência humana, isso envolve importantes aspectos de geopolítica), deverão mudar de perfil. Serão majoritariamente menores e movidos a combustíveis alternativos em relação aos atualmente dominantes.

O sistema de telefonia também ficará ameaçado. Afinal, os protocolos de voz sobre IP estão sendo rapidamente popularizados em sua forma gratuita (comunidades como a que fica ao redor do skype, por exemplo), especialmente com a abertura de sinal wi-fi em algumas cidades importantes (como Porto Alegre). Isso torna a internet gratuita para qualquer uso, o que pode vir a ser uma tendência de rápida disseminação... Demanda da população ao poder público.


Resumindo, essa visão de futuro não é nada mais do que a extrapolação curta da realidade atual. E nesse contexto, a crise não deve durar muitos anos.

Porém, não se pode fugir da idéia de que os grupos empresariais arcaicos, diante dessa nova realidade, continuarão mais tempo em crise... até morrerem ou se reinventarem.

No futuro retomaremos esse assunto.



Curtas

1) Hoje o dólar chegou a R$ 1,794 e a Bovespa bateu nos 61.316 mil pontos. As duas cotações são incompatíveis com a realidade estrutural brasileira. Cedo ou tarde chegarão os tempos de ressaca. Recomenda-se prudência aos investidores em ações e às empresas que apostam na valorização do Real. Sadia, Aracruz e outras pagaram caro por esse equívoco!


2) Dois acionistas de peso do Carrefour estão pressionando para que a rede de supermercados se desfaçam de suas posições nos países emergentes (inclui o Brasil). Tais vendas seriam uma forma rápida de realização de lucros, beneficiando os quotistas. Seguramente, interessados não faltarão para a aquisição da rede de capital francês, que juntamente com a Wall Mart e Pão de Açúcar dividem o filé mignon do varejo de alimentos e eletroeletrônico brasileiro.


3) Hoje uma das principais manchetes dos grandes portais foi: “Inadimplência das empresas, segundo Serasa, cai 12,7% em agosto frente a julho”. E fora das letras garrafais, a verdade menos animadora: a inadimplência, segundo a mesma pesquisa, subiu 19,8% se comparada com agosto do ano passado. Moral da história: quem sai repetindo manchetes por aí, corre o risco de passar vergonha!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

PNAD 2008 - Parte 3: Mudança de Estado / Aumenta o Rombo da Previdência

PNAD 2008 – Parte 3: Mudança de Estado


Eis um dado interessante: até o ano passado 15,7% da população brasileira já havia deixado de residir no seu estado de nascimento. E nesse contexto de mobilidade, evidentemente existem os destinos mais e os menos populares; assim como o povo mais apegado a sua terra e os com maior propensão a buscar novos horizontes em algum outro lugar do Brasil.


A próxima tabela (essa vale a pena clicar para ampliar) mostra o fluxo migratório brasileiro, de acordo com a Pesquisa PNAD 2008 (IBGE).

Vamos, então, as principais curiosidades:


1) Como era de se esperar, o Distrito Federal é a unidade da Federação que proporcionalmente mais atrai imigrantes. 51,19% da população da capital do país é nascida em outro lugar. No ano que vem, Brasília completará 50 anos. E em meio século é notável que uma cidade, criada dentro de uma propriedade rural  para ser sede administrativa de governo, já tenha quase 49% de seus moradores ostentando a qualidade de nativos. Na verdade, o DF possui intensa vida econômica externa à administração pública. Se eventualmente a sede federal fosse para outro lugar, certamente o impacto econômico seria grande; mas Brasília, Taguatinga, Ceilândia, Gama, Guará, Sobradinho, Planaltina e outras cidades (ex-satélites) certamente sobreviveriam.




2) Rondônia é a segunda unidade federativa que mais atrai população externa. A participação dos imigrantes é de 46,08% da população total. O fenômeno está ligado às oportunidades que o antigo território oferecia, com subsídios federais. Mais recentemente, iniciou-se novo fluxo migratório em função, especialmente, do desenvolvimento do potencial hidrelétrico do Rio Madeira e os investimentos que tal infra-estrutura naturalmente atrai.


3) A seguir, Roraima detém a terceira posição do ranking, com 45,8% de imigrantes, provenientes, especialmente do Maranhão. Mato Grosso também apresenta grande receptivo a novos moradores (41,3%), especialmente originários do Paraná, Goiás, São Paulo e Minas Gerais. Nesse caso, é interessante observar que os imigrantes paranaenses e goianos devem ser ligados às famílias predominantemente gaúchas que se instalaram naqueles estados até os anos 80 para o desenvolvimento de monoculturas (soja). No caso do fluxo mineiro, provavelmente há relação com a vocação de mineração mato-grossense. Finalmente, os paulistas (como não poderia deixar de ser) devem ter sido atraídos para o Mato Grosso, focados na administração da riqueza gerada pelo povo dos outros estados.


4) Pelo lado oposto, temos estados pouco populares em termos de atração de imigrantes. Nesse critério, a liderança vai para o Rio Grande do Sul, onde apenas 4,15% de seus moradores não são lá nascidos. Além de ser o extremo do Brasil, o estado gaúcho ainda guarda muito fortemente suas tradições de colonização ítalo-germânica. Outro aspecto que conta para essa pequena atratividade é o fato de o RS, nas últimas décadas, ter tido um desempenho econômico abaixo da média brasileira. E, normalmente, os imigrantes se movem motivados pela ampliação de oportunidades.


5) Os estados nordestinos Ceará, Paraíba, Bahia e Alagoas seguem os gaúchos nesse ranking inverso. No entanto, a explicação é mais simples: a pobreza da região, predominante na sua forma mais aguda até os anos 80, gerou enormes fluxos de êxodo que ainda são significativos nas estatísticas populacionais brasileiras.


6) Mas e com relação aos Estados com maior nível de evasão populacional? Bem, nesse caso, a liderança absoluta é da Paraíba com 35,3% de emigração, seguido do Piauí (31,57%) e Alagoas (28,4%). A explicação é análoga ao item anterior: as citadas unidades federativas historicamente ofereceram menos oportunidades para suas populações, muito em função das seguidas secas que enfrentaram no decorrer do século XX.


7) No caso de Tocantins, a intensa emigração (26,9%) é compensada, com vantagem, pela imigração ao estado (32,2% da população) mais jovem do Brasil, o que deve justificar tal tipo de mobilidade. O fluxo de saída é fronteiriço, direcionado ao Pará e Goiás (estado que originou Tocantins), sendo que o receptivo é predominantemente do Maranhão.


8) Existem também os estados nos quais a população tem maior grau de fidelização. É o caso, especialmente, de Roraima, de onde apenas 4,75% dos nativos tomaram a decisão de deixar as origens, ao mesmo tempo em que 45,8% da população estadual é de imigrantes. Nesse ponto, podemos pensar que a unidade federativa no extremo norte do Brasil é o estado favorito do país, pelos seus próprios moradores.


9) Rio de Janeiro (5,68%), Amazonas (6,18%) e São Paulo (6,65%) são outros estados com menor percentual de imigração. São sociedades com estrutura socioeconômica mais madura (especialmente RJ e SP), cujas soluções de empregabilidade e empreendedorismo estão predominantemente dentro das próprias fronteiras.

10) Para constar: em números absolutos, São Paulo e Rio de Janeiro são os locais que continuam atraindo mais imigrantes. Entretanto, como consistem em regiões das mais populosas do país, esses números tornam-se menos relevantes, em termos percentuais. Pelo lado oposto, Minas Gerais, Bahia e São Paulo são as unidades que mais geram fluxos de emigração, o que também tem impacto minimizado no universo populacional dos citados estados.

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Aumenta o Rombo da Previdência

Tem aspectos na vida pública brasileira que motivariam revoltas populares em vários países. Um deles é a maneira como é tratada a nossa previdência oficial. Todo mês o trabalhador tem parte de seu salário apropriado pela União, com o claro objetivo de preparar o fundo de sua própria aposentadoria. O empregador, religiosamente, é obrigado a pagar o dobro.


Em um país ainda jovem (apenas 7,65% da população tem 65 ou mais anos de idade) , tal situação deveria ser mais do que suficiente para financiar a seguridade social, com vultosas sobras para a patrimonialização do sistema (como fazem os fundos de pensões), de forma a garantir renda futura, quando a população perder capacidade contributiva.


Mas não: o déficit previdenciário, há décadas, é o principal tumor que corrói as contas públicas brasileiras. A arrecadação, na realidade, nunca chegou (pelo menos nos últimos anos) a ser suficiente para pagar o custo total declarado de aposentados e pensionistas.


Desde 2003, em média, a receita previdenciária cobriu apenas 68,8% da despesa total do sistema. Nos últimos 12 meses isso significou uma complementação orçamentária da ordem de R$ 66 bilhões, o que seria suficiente, por exemplo, para construir cerca de 2 milhões de casas populares de 50m2 cada. O valor, caso não precisasse ser gasto, seria mais do que suficiente para isentar todas as empresas do IRPJ (ainda sobraria cerca de R$ 7 bilhões de troco, segundo a arrecadação de 2008).


E é próprio fazer tal comparação com impostos, pois é justamente deles que vem a fonte dos recursos para cobrir o déficit previdenciário.


Mas como esse déficit ocorre? Afinal, o conceito de previdência é similar ao de uma poupança forçada, para ser usufruída após a aposentadoria.


O fato é que a receita das contribuições de empregados e empregadores é “desviada” de seu objetivo central. Veja a ilustração a seguir. Nos últimos 12 meses (até agosto passado), simplesmente 21,9% da despesa previdenciária foi ligada a gastos não previdenciários.


Esse é o maior percentual de despesa ilegítima dos últimos 5 anos. A história é similar àquela na qual a mãe manda o filho comprar leite e pão no armazém da esquina e o moleque se enche de balas e chicletes.


Ou seja, grande parte dos recursos em questão acabam sendo gastos em outras atividades, e isso acaba sobre-onerando o sistema previdenciário e, conseqüentemente, os contribuintes.


Mas pior ainda é saber que dentro da despesa considerada previdenciária estão incluídos benefícios assistencialistas, como, dentre outros, o pagamento de pensão equivalente a um salário mínimo aos maiores de 65 anos que nunca contribuíram com o Sistema.


Não se questiona aqui a procedência ou não da benevolência do Estado, mas sim, de onde saem os recursos para tal.


Será justo que o trabalhador contribuinte pague os valores em questão? O fato é que ele paga... e isso custa a ele, no final das contas, um valor menor de aposentadoria e/ou mais anos de trabalho para custear o conforto de outros.


Por isso é que tal situação seria digna de revoltas populares em outros países. Ainda bem que o Brasil é uma nação de paz, não afeita a atos de violência... a não ser pelos elevadíssimos índices de criminalidade. Mas isso é outra história... Será?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

PNAD 2008 – Parte 2: O Brasil Rural

Nos final dos anos 70 e início dos 80 a propaganda ufanista do país dava destaque para a transição do Brasil, que deixava de ser predominantemente rural para se tornar uma Nação de maioria urbana, como acontecia nos países desenvolvidos.


Por conta disso - que envolveu um plano de desenvolvimento estatal, dirigido, principalmente, para as grandes metrópoles - várias das principais cidades brasileiras incharam bem além de sua capacidade de absorção populacional.

O resultado: um PIB maior acabou sendo acompanhado por efeitos colaterais que hoje representam os principais problemas de tais municípios: bolsões de miséria; insustentabilidade ambiental; criminalidade; trânsito; dentre outros.

Ao final das contas, chegamos na virada do século com uma população rural limitada a 16,1% do total nacional. Esse percentual não foi apenas uma conseqüência do êxodo da população do campo para as maiores cidades.

No contexto brasileiro, aspectos relacionados principalmente à conveniência de políticas partidárias, acabaram inflacionando o número de municípios no país. Em 1980 eram 3.974, que pularam para 5.564 em 2006.

E nesse processo de “urbanização legislativa”, é provável que várias áreas pouco habitadas tenham passado a ser consideradas núcleos urbanos, o que, efetivamente, após algum tempo acabou mesmi acontecendo, pela necessidade de se identificar alguma sede municipal, com direito a prefeitura, câmara de vereadores, secretarias e outras repartições geradoras de emprego público.

Mas apesar de todas essas considerações, os últimos anos estão sendo marcados por uma reação da participação da população rural no total brasileiro. Dos 16,1% registrados em 2001, passou-se para 16,25% no ano passado.

Esse é um avanço reconhecidamente tênue, mas significativo na medida em que revela o estancamento da onda de urbanização.

A seguir apresentamos a pirâmide populacional da zona rural brasileira de 2001 e 2008 (clique na imagem para ampliá-la). Nos sete anos de distancia, pouco mudou, a não ser pela perceptível redução da base etária de zero a quatro anos de idade, a qual encolheu 11,3%. Isso revela intensivo programa de controle da natalidade. Nas outras faixas etárias que compreendem crianças e jovens a expansão permaneceu intensa.


Por conta disso, a população no campo em idade de trabalhar, em 2008, é equivalente a 53% do total. Esse percentual traduz uma elevada relação de dependência para a sustentação dos teoricamente inativos. No caso da totalidade do Brasil, esse percentual ficou em 60% no ano passado (menor grau de dependência).
Uma outra questão curiosa a respeito da população urbana brasileira refere-se a concentrações populacionais de acordo com a cor da pele. Certo, é besteira pensar que uma mera questão de pigmentação justifique algum tipo de diferença étnica, além de uma questão estética.



Mas é inegável que culturalmente isso acabou tendo algum tipo de relevância, muito provavelmente em função de hábitos segregacionistas das próprias etnias.

Isso deve justificar, por exemplo, o porquê de os povos de pele amarela (origem oriental) terem menor concentração populacional na zona rural - apesar do avanço registrado em 2007 e posterior recuo no ano passado ( o dado em questão pode estar apontando para uma distorção da pesquisa PNAD de 2007, ou alguma iniciativa comunitária rural que não deu muito certo).


Por outro lado, surpreende o fato de a população indígena, até o ano passado, ter apenas entre 20% e 25% de seu contingente ligado diretamente ao ambiente rural. Em tese, isso pode estar mostrando um processo histórico de integração do índio aos hábitos e costumes urbanos da sociedade brasileira.

Entretanto, chama a atenção o salto da participação desse povo meio rural, identificado no ano passado (de 19,8% para 27,6%). Muito provavelmente, o fenômeno tenha sido conseqüência de alguma mudança metodológica do IBGE que, erroneamente, não foi aplicada na contabilização dos anos anteriores.

Mas o mais curioso do quadro abaixo é a elevada participação dos definidos como pardos na habitação do interior do Brasil. Esse grupo equivalia no ano passado a 43,8% da população nacional, só perdendo para os identificados como brancos (48,4%). Mas especificamente no meio rural, a participação dos pardos chegou a 54,7% do total de habitantes.

Este desequilíbrio pode ter várias justificativas. Mas deixemos para os sociólogos a identificação dos motivos pelos quais tal concentração ocorre.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

PNAD 2008: O Que Mudou no Brasil Nessa Década – Parte 1

Interessante a evolução comparativa de alguns aspectos da sociedade, demografia e economia brasileira. A partir de hoje iniciaremos análise dos principais elementos que definiram a mudança da realidade entre o início da década e o ano passado, através da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD), do IBGE.



Pelo noticiário, os dados em questão são principalmente analisados sob o ponto de vista das políticas públicas, priorizando concentração de renda e outros conceitos importantes, mas que tem pouca utilização para os fins mais práticos da vida privada.


Inicialmente é importante identificar que em apenas 7 anos a estrutura populacional do país mudou de forma substancial. Conforme aponta a pirâmide populacional abaixo, o Brasil está envelhecendo - a pirâmide ficou mais magra na base e gorda nos segmentos superiores (clique na imagem para ampliá-la).





Nesse ponto, o primeiro destaque é a queda abrupta da natalidade. Em 2001 tínhamos uma população infantil e de jovens (0 a 19 anos) de 65,8 milhões de pessoas, que caiu para 63,9 milhões no ano passado, refletindo redução da fecundidade nacional (menos filhos por mulheres).


Mas essa não é uma medida tão determinante. Afinal, a taxa de queda populacional vem mostrando um comportamento decrescente na direção das faixas mais jovens.


Veja só: a diminuição demográfica da população entre 10 e 14 anos foi de 3,29%; na faixa de 5 a 9 anos, a retração foi de 2,90%; e entre 0 e 4 anos, a diminuição foi de 2,55%. O esperado seria exatamente o contrário: as maiores quedas se concentrando nos segmentos de menor idade.


Tal fenômeno por ter duas explicações: uma eventual reversão da fecundidade, com a maior propensão à gravidez (especialmente entre menores de idade); ou o efeito prático do aumento da violência no âmbito da população jovem, onde realmente se localiza a maior concentração de assassinatos. Essa é uma situação realmente preocupante.


No outro extremo, a população de idosos saltou de 10,8 milhões para 14,3 milhões (32%), dinâmica essa que tenderá a se acelerar nos próximos anos.


Agora, fazendo a relação de pessoas teoricamente incluídas no mercado de trabalho com os inativos (crianças, jovens e idosos), em 2001 tínhamos uma estrutura na qual uma pessoa em idade ativa sustentava, em média, 0,78 inativos. No ano passado essa relação foi de um para 0,74. Ou seja, a relação de dependência no país diminuiu pouco mais de 5% no intervalo de tempo em questão.


Em poucas palavras, a população brasileira com potencial de geração da própria renda aumentou 8,16%. Isso significa 8 milhões a mais de consumidores. Por outro lado, o universo infantil e jovem (de zero a 19 anos) conta com 1,9 milhões de pessoas a menos (queda de 3%), o que gera efeitos nos gastos educacionais, brinquedos, moda infantil, etc.


Já o número de idosos (acima de 65 anos) aumentou em 3,5 milhões de pessoas.


Apesar desse grupo ser classificado demograficamente como inativo, a verdade é que consiste num segmento de consumo de elevado poder. O fato é que os brasileiros mais longevos chegam a tal idade com mais chance de ter uma estrutura patrimonial e de renda melhor definida, seja por aposentadoria, ou construção da poupança pessoal fora da estrutura previdenciária estatal.


Afinal, pessoas abaixo da linha de pobreza, têm pior acesso à saúde (pública) e naturalmente (lamentavelmente) vivem menos.


Outra questão: o conceito de idoso está em transformação e é cada vez mais expressivo o número de pessoas com mais de 65 anos que permanecem com força no mercado de trabalho e empresarial. Em resumo, estamos tratando de um nicho de consumidores que merece maior dedicação.


E isso não é uma orientação moral: o segmento detém níveis médios de renda superiores à média nacional. Suas demandas: saúde (incluindo estética); conforto; turismo; e produtos de maior nível de qualidade.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A Nova Onda Estatista - Blog da ESTPLAN

* publicado originalmente na Revista Digital (http://www.revistadigital.com.br/)

A questão é profunda. Tem a ver com o que poderíamos chamar de alma do ser humano ou da humanidade.

Até prova em contrário, somos seres contraditórios. Talvez uma mistura de bando de micos barulhentos, com algum gorila eremita. Ao mesmo tempo em que necessitamos nos organizar socialmente, buscamos cada vez mais a consciência do próprio eu; a individualidade.

Sobre essa reflexão não coloco nada de senso moral. Somos o que somos e isso é tudo!

Mas é inegável que os dois extremos (vida social intensa e individualismo extremo) tendem cansar as pessoas. É comum ver mulheres e homens esgotados do stress das grandes cidades decidindo buscar uma vida mais isolada, numa praia ou fazenda, longe do tumulto das metrópoles. Mas na esmagadora maioria dos casos, esse ideal acaba se enfraquecendo em questão de semanas, ou meses. Daí, pinote na direção da cidade... E feliz do caboclo que acaba comprando o sonho alheio baratinho; por uma parcela do que foi investido. Pelo lado dos solitários, eventualmente também há surtos de amor à tribo, o que acaba sendo estressante em pouco tempo.

E essa oscilação entre a necessidade da vida em sociedade e individual é que moldou e continua moldando nossa civilização.

Até pouco tempo, quem estava ganhando terreno era o lado individualista: os casamentos e taxa de fecundidade são indicadores em queda ou desaceleração em praticamente todo do mundo.

No âmbito da economia, esse dualismo é que inspira as paixões por pensamentos socializantes ou individualistas.

Sem grandes teorias, a tradição mostra que as sociedades oscilam entre um ideal e outro em função das circunstâncias: na hora em que fica mais fácil ganhar dinheiro, é cada um por si; mas nos momentos de medo ou dificuldade, uma autoridade protetora do Estado é a pedida mais requisitada.

Mas afora as convicções dos apaixonados pelas próprias idéias - que fazem delas sua razão de ser - as pessoas são mais práticas, balançando de um lado ao outro, de acordo com suas conveniências mais imediatas.

Claro, existem episódios em que o apelo para um ou outro extremo é mais forte, levando a decisões aparentemente convictas, firmes e duradouras.

O desmantelamento da União Soviética tem muita relação com esse tipo de movimento. As pessoas, para serem iguais (socialismo/comunismo), são obrigadas a obedecer regras rígidas que, além de atentar contra a individualidade, são um prato cheio para estruturações burocráticas de rápida esclerose. E a mistura entre ânsia de não perder o poder por parte do exército vermelho e a vodka dentro do corpo de Boris Ieltsin acabaram por provocar a transição quase instantânea entre uma rígida ditadura para a total anarquia... até que a Máfia russa começasse a dar as ordens...

A ascensão de Putin seria uma tentativa de síntese dos dois extremos, com um viés mais para o autoritarismo, secularmente tradicional naquele povo.

Mas em setembro do ano passado começou a tal da crise mundial. Trilhões de dólares foram queimados pelos governos de vários países para evitar um colapso monetário. O preço pago pela travessura da sub-prime foi realmente alto. E não há dúvidas que ficou no ar o sentimento de que a recessão global foi causada por um bando de moleques fora de controle.


A partir daí, começou a crescer a idéia de que os governos dos países deveriam assumir um controle maior sobre o sistema financeiro. Nos EUA e Inglaterra, dentre outros países, vários bancos acabaram sob intervenção governamental. No Brasil, o Bacen praticamente impôs que os bancos privados de maior porte absorvessem seus concorrentes menores.

Tais medidas não podem ser consideradas despropositadas. Mas o problema é que o movimento em questão acabou influenciando a exacerbação de medidas intervencionistas em outros segmentos produtivos.

Não, isso não é algo que esteja restrito ao projeto de poder da esquerda brasileira. Pessoas como o presidente dos EUA, Barack Obama, também estão convencidos de que a autoridade dos governos deve aumentar. E se isso acontece, seja no campo social ou econômico, é natural que a contrapartida seja a diminuição de grau das liberdades individuais.

E essa onda estatista está tomando força em praticamente todo o mundo contemporâneo, na esteira da contabilização dos prejuízos da crise global.

O problema de tal movimento, caso levado de maneira relevante as vias de fato, é que chegará o tempo em que o stress da crise passará e milhões de pessoas buscarão retomar seus hábitos e práticas antigas

Porém, sob muitos aspectos, eles estarão impedidos de usufruir da liberdade com a mesma plenitude do passado.

Afinal, um Estado mais forte cobra o seu preço, seja no cerceamento das liberdades individuais (e econômicas), ou mesmo na redução do direito de propriedade, via estatização ou alta de impostos.

Daí, o pêndulo entre o coletivo e o individualismo começa a pender para o segundo. Os movimentos por maior liberdade ganham força, determinando a custosa tarefa de desfazer o que foi feito para dar força adicional ao Estado.

Moral da história: misturar a necessidade de proteção em momentos de crise, com intervenção nos principais hábitos da vida privada não dá certo.

Entendo que por mais grave que esteja sendo a atual recessão global, ela não pode ser tratada muito diferentemente do que uma grande tempestade, onde as pessoas se juntam em lugares mais protegidos; se ajudam mutuamente na reconstrução do que foi destruído; para depois cada qual seguir seu próprio caminho.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Aumenta o Risco da Sub-Prime Brasileira

Uma das conclusões a que cheguei na postagem do último dia 15 de setembro é que o crescimento do consumo varejista no Brasil estaria escondendo um processo em potencial de explosão da inadimplência no país. Os fatos que justificariam tal perigo são bastante simples: a remuneração total dos brasileiros aumentou 25% nos últimos quatro anos, enquanto crédito associado ao comércio se expandiu 163% no mesmo espaço de tempo.


Pois bem, a curiosidade bateu e fui pesquisar diretamente na fonte a consistência de tal hipótese. E realmente a situação no âmbito das instituições financeiras privadas está de arrepiar os cabelos.

A ilustração seguir mostra que o total de empréstimos com atraso pulou de R$ 13,4 bilhões para R$ 56,5 bilhões nos últimos oito anos. Lá, em julho de 2001, os bancos privados retinham 59% desse valor, passando para 76% nos dias atuais.

Já as instituições financeiras públicas, após anos de negociações no âmbito da dívida agrícola, priorizaram operações de crédito de menor risco, reduzindo seu grau de inadimplência - chegou a estar acima de 10% em 2000 - para patamares na casa dos 2%.

Por outro lado, as instituições de crédito privadas entraram para valer na onda de consumo. Por meio de convênios com o varejo e operações próprias, disputaram ferrenhamente o mercado de empréstimos para a aquisição de veículos, eletroeletrônicos e outros produtos duráveis.

Com o início da crise global, o setor passou a conviver com taxas crescentes de inadimplência, partindo de 3,3% em setembro do ano passado, chegando a 5,4% em julho último. O mais sério de tudo é que nesse intervalo de tempo não houve um mês sequer em que o indicador recuasse. E atenção: o citado patamar é o maior nível de atraso de empréstimos registrado pelos bancos privados desde o final da década passada. Antes disso não há indicadores disponíveis.

Para reverter esse processo de escalada da inadimplência, o nível de emprego tem que verdadeiramente reagir. Se o pronunciamento do governo federal a respeito da alta da oferta de trabalho em agosto estiver correta, as prestações em atraso junto aos bancos deverão diminuir de intensidade, pelo menos a partir de setembro. Caso contrário, o não pagamento de empréstimos se tornará cada vez mais relevante, tornando razoável o risco de algum tipo de colapso do sistema financeiro nacional (sub-prime tupiniquim).

Esperemos que o Banco Central esteja preparado para reagir a tal eventualidade, em moldes parecidos como o que foi feito no início do Plano Real, quando o PROER garantiu a liquidez das instituições financeiras.


 
Curtas



1) De acordo com a Receita Federal, a arrecadação de impostos caiu 7,5% em agosto, na comparação com o mesmo mês de 2008. O fato gerador dessa receita foi majoritariamente em julho, o que comprova a falta de vitalidade da economia nacional. Repito: foi um ato precipitado do governo, anunciar final da recessão.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Movimento Aéreo Brasileiro: Céu de Brigadeiro e Turbulência

De acordo com os dados da Infraero, a circulação de vôos e passageiros pela via aérea no Brasil não ficou comprometida com a recessão global. Na verdade, o crescimento registrado entre janeiro e julho desse ano em relação a igual período de 2008 foi bem razoável: 4,76% em termos de pousos e decolagens e 3,57% no embarque/desembarque de passageiros.


O único grande aeroporto a registrar verdadeiro impacto negativo de movimento foi o de Belém, com queda de 1,48% dos pousos e de 6,91% do movimento de passageiros.

A retração em Galeão (RJ) foi, provavelmente conseqüência do remanejamento de vôos para Santos Dumont (RJ).


Da mesma forma, as infra-estruturas de Guarulhos e Congonhas, em São Paulo, foram aliviadas, a partir do redirecionamento de rotas para Campinas, há apenas 90 km da capital paulista.


Na totalização dos 3 aeroportos, o fluxo de passageiros aumentou 1,1% no período em foco, o que não deixa de ser um sinalizador de alarme. Afinal de contas, que justificativa teria para que o centro mais rico do país tivesse um desempenho tão inferior à média brasileira? Em princípio, é razoável supor que tudo seja o efeito direto do enxugamento de custos das empresas, racionalizando as viagens de negócios.

No resto do país, o turismo nacional deve ter predominado como força de expansão do movimento aéreo, já que o movimento internacional de passageiros caiu 5,33%, aí sim, em função dos efeitos da crise global.
Inicialmente, tais informações surpreendem, especialmente porque o início do ano foi bastante difícil para as companhias aéreas.


Mas está errado quem atribui a recuperação do movimento dos aeroportos à vitalidade da economia brasileira frente à crise.

Na verdade, para diminuir a ociosidade dos vôos, as empresas do setor promoveram relevantes reduções do preço de seus serviços. De acordo com o IPCA, entre janeiro e julho, o valor médio das passagens aéreas recuou 5,82%. Em agosto (com o fim da alta temporada) o ticket médio chegou a cair 16,17%, ao sabor das promoções e gentilezas de milhagens.

Em princípio, a queda do preço do combustível poderia dar sustentação parcial a esse movimento. Entretanto, se vale o monopólio da Petrobrás para a venda do energético, isso só seria possível se a estatal tivesse repassado algum benefício da redução do preço mundial do Petróleo para as aéreas.

Resumindo, o Brasil continua nos ares. Voar está mais barato. Mas e as empresas? A Gol teve prejuízo próximo a R$ 1 bilhão em 2008, enquanto a TAM perdeu R$ 1,3 bilhão. Mesmo que essa última empresa tenha registrado pequeno lucro no segundo trimestre desse ano, o quadro conjuntural não parece muito favorável para o setor.

Afinal, se as duas maiores aéreas do país tiveram perdas bilionárias no ano passado, será que um aumento de 4,76% no número de clientes é o suficiente para reverter tais prejuízos? A propósito: o número médio de passageiros por avião caiu 1,14% entre janeiro e julho desse ano frente a igual período de 2008.


Curtas


1) Hoje o Ministério do Trabalho divulgou o resultado do emprego formal de agosto no Brasil: geração líquida de 242 mil empregos formais. Esse foi o melhor resultado do ano, superando inclusive o dado apurado em agosto do ano passado (239 mil vagas), antes da crise, portanto. O melhor é que essa retomada do emprego foi sustentada pela indústria (66 mil vagas) e construção civil (40 mil vagas), setores esses que estavam lidando com sérios problemas de desemprego. Quando os dados detalhados forem disponibilizados, estaremos analisando com maior profundidade essa questão.






2) E a Bovespa bateu nos 60 mil pontos... e foi embora para 60.400. O próximo choque poderá ser diferente...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Entendendo a Alta do Consumo Brasileiro

Praticamente fechando a série dos indicadores de atividade econômica de julho, o IBGE, hoje pela manhã, divulgou alta de 5,9% do volume de vendas do comércio varejista em relação ao mesmo mês de 2008. A versão ampliada do indicador (inclui automóveis e material de construção) acabou sendo um tanto quanto decepcionante, fechando com expansão de apenas 0,87%.


A próxima ilustração acompanha a evolução no varejo brasileiro em doze meses desde dezembro de 2005. E nesse espaço de tempo podemos claramente observar as vendas sempre estiveram mantendo um ritmo de expansão superior a 5% ao ano, sendo que o indicador disparou para os dois dígitos a partir do final de 2007, até o fechamento do ano passado.

E mesmo a forte desaceleração da economia em 2009 não impediu que a alta fosse mantida em patamares superiores a 5%.

Em princípio, tal contexto chega a ser um contra-senso diante de outros indicadores de produção negativos, especialmente no âmbito da indústria e exportações.

Observe o leitor que especialmente no período de maior crescimento do comércio, as remunerações avançavam em ritmo sensivelmente inferior. Ou seja, as vendas estavam aumentando em um ritmo mais intenso do que o acréscimo da renda de trabalhadores, autônomos e profissionais liberais. É o tradicional " gastar mais do que tem”, já que não faz parte da tradição brasileira o hábito da poupança.

O fenômeno se explica pela rápida expansão do crédito junto à classe média e baixa do Brasil, que nesse meio tempo ampliou seu acesso a cartões de crédito e financiamento de longo prazo para a aquisição de veículos e outros bens duráveis.

É preocupante o fato de que, em princípio, essa novidade da economia nacional continue a se expandir a taxas anuais superiores a 20%.


A próxima ilustração deixa a questão ainda mais clara: desde meados de 2004 até o tempo atual o volume de vendas no varejo aumentou entre 33% e 37% ( versão ampliada do indicador). Ao mesmo tempo, a massa real de remuneração cresceu cerca de 25%. Esse desequilíbrio entre renda e consumo foi preenchido pela expansão de 163% do crédito aos lojistas, ou diretamente ao consumidor via instituições financeiras.
Inicialmente, tal percentual poderia não ser tão significativo, partindo de uma base pequena. Entretanto, no período de análise, tais modalidades de empréstimo simplesmente pularam de 9,7% para 19,2% do PIB brasileiro, acumulando em julho último o montante de R$ 560 bilhões (dados trabalhados a partir de informações do Banco Central).



Ou seja, não dá para dizer que estamos falando apenas de alguns trocados. E nesse contexto, a preocupação fica para a continuidade da expansão anualizada do crédito em patamares acima de 20% anualizados.

Lembrem que tais empréstimos têm taxas de juros predominantemente muito caras (de 4% a 12% ao mês, conforme a modalidade). Isso significa que o custo financeiro e amortização de dívidas está cada vez representativo na receita orçamentária das famílias brasileiras.

A questão, então, é: até que ponto tal endividamento pode continuar a aumentar? Bem, isso depende das taxas de juros e ampliação do prazo de crédito. Mas, mesmo assim, existe um teto a ser descoberto.

O risco é que tal dosagem seja exageradamente extrapolada. Daí, corremos o sério perigo de uma crise da sub-prime brasileira (créditos podres estourando e ameaçando o sistema financeiro).

No ano passado, pouco antes de setembro, quase ninguém acreditava na insolvência da classe média norte-americana, por conta de hipotecas residenciais. E deu no que deu! Aqui no Brasil, a enxurrada de carros novos, eletrodomésticos e outros bens de consumo (via cartão de crédito) podem estar construindo problema análogo.

Dica: quem trabalha com crédito poderia começar a ser mais criterioso. Isso tanto vale para o empresário, como para o consumidor.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Não Tem Jeito: O Brasil Está Sim em Recessão

Hoje pela manhã o IBGE causou impacto nos principais portais da Internet, ao veicular a informação de que o Brasil havia deixado para trás a recessão, de acordo com o resultado do PIB do segundo trimestre desse ano. Segundo o Instituto, houve uma alta de 1,9% do produto interno bruto nacional, frente aos três meses imediatamente anteriores.


A questão é que essa é uma medida deturpada da realidade, mesmo que isolada dos chamados efeitos sazonais. Afinal, no primeiro trimestre há a concentração de férias dos trabalhadores brasileiros, além de eventos típicos do verão, como o carnaval, que acabam determinando um menor nível de produção no período. Simplificando: sempre a geração de riqueza no segundo trimestre foi e será maior do que nos primeiros três meses do ano.


A linha verde da ilustração a seguir mostra exatamente isso. Eventualmente pode-se destacar o aspecto favorável de que o ritmo de crescimento da economia brasileira, na abordagem em foco, vem se acelerando desde 2007.

Mas a verdade, na forma mais crua, só é verificada na medida em que comparamos períodos homogêneos. Ou seja, analisamos o desempenho do segundo trimestre de 2009 diante de espaços de tempo idênticos dos anos anteriores.

Nesse caso, como mostra o traço avermelhado (mesmo trimestre do ano anterior) o PIB nacional recuou 1,16%, o que não é um desempenho tão ruim, se comparado como padrão mundial da atualidade, em função da crise financeira iniciada em setembro do ano passado.


 
Sendo assim, politicamente entendo que governo federal errou ao não tratar a questão de maneira mais aberta e franca.



Esclarecida a questão, chamo a atenção do leitor para o próximo gráfico, que mostra a evolução encadeada do produto interno bruto do país. No caso, tanto no enfoque de variação sobre o mesmo trimestre do ano anterior (mais sensível), como na análise anualizada, é possível verificar que desde o final do ano passado o Brasil vem passando por um sério esfriamento da sua economia.

Observando a trajetória recente da linha laranja, é praticamente impossível que o PIB nacional não feche no vermelho na contabilização final de 2009, uma vez que o ritmo de desaceleração é bastante intenso.


Esmiuçando um pouco mais essa rápida análise, no âmbito do setor produtivo a indústria e a agricultura é que acabaram determinando a dinâmica verdadeiramente recessiva do Brasil.


No caso industrial, a retração de 7,94% é o pior resultado das últimas décadas (o IBGE inicia a sua série em 1999, não havendo registro de queda tão intensa), sendo a conseqüência direta da retração do comércio mundial, em conjunto com um contexto cambial francamente desfavorável para as fábricas brasileiras.

Já o recuo da agropecuária foi devido à queda do preço das commodities no mercado global no segundo trimestre do ano, além de adaptações do mercado à nova realidade financeira global, após o enxugamento da liquidez provocado pela crise do crédito.

Por fim, o único setor produtivo a sustentar crescimento foi de serviços, apurando alta de 2,4%. Esse resultado acabou sendo impulsionado, especialmente, por dois aspectos, quais sejam: a elevação de 3,2% do consumo das famílias e de 2,2% dos gastos do governo.

Acompanhando esses movimentos, o setor de intermediação financeira liderou a formação de riqueza do país, com a generosa alta de 8,22%. Em contraposição, o comércio amargou queda de 3,98%.

A comparação desses números deixa fortes indícios de que o aumento do consumo das famílias está mais focado nos serviços financeiros do que na aquisição de bens, propriamente ditos.



Em resumo, por mais que o cidadão brasileiro esteja ansioso por boas notícias no campo econômico, a verdade é que, pelo menos até o fechamento dos dados oficiais do primeiro semestre de 2009, as atividades produtivas do país, predominantemente, estavam enfrentando dificuldades de sustentação.


Ao invés de mascarar essa realidade para novamente aumentar impostos sobre carros, eletrodomésticos e material de construção, o governo federal poderia estar estudando e implementando estratégias de forma a aproveitar as atuais instabilidades do mercado global, em favor da ampliação das oportunidades comerciais para as empresas brasileiras.

Essa agenda deve, obrigatoriamente, incluir aspectos como: desoneração real das exportações; política cambial mais harmônica com a realidade produtiva e do emprego (ao invés de priorizar necessidades financeiras do tesouro); e estratégias diplomáticas mais próximas afeitas à promoção comercial.



Xeretando na Balança Comercial Brasileira




Meio que na surdina, o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio divulgou, hoje, o detalhamento das exportações e importações brasileiras de agosto.

Bem, todos os interessados no assunto devem saber que as exportações do mês chegaram a US$ 13,5 bilhões. Isso representou uma queda de 30% diante de julho; e de 2,24% em relação a agosto do ano passado. Nessa última comparação, o resultado até que está bom, diante do contexto de crise global.

Com relação às importações, elas chegaram a US$ 10,8 bilhões, recuando 38% frente a julho e 4% em relação a agosto de 2008.

Em poucas palavras, o comércio exterior brasileiro manteve, aparentemente, uma situação de tradicional equilíbrio com superávit. Em princípio, nem parece que o país passa por um quadro de grave apreciação cambial.

Mas a realidade não está às mil maravilhas, como aparente. Vejamos alguns aspectos que deixariam qualquer gestor público de negócios internacionais com a pulga atrás da orelha:

1 - Em média, cada quilo exportado pelo Brasil rende US$ 0,33 centavos. Pelo lado das importações, o custo fica em US$ 1,21. Isso quer dizer que um quilo de produto estrangeiro vale cerca de 3,6 quilos de produto brasileiro. Tal perfil não é de se orgulhar.

2 – No mês passado foram importados 6.977 diferentes tipos de itens exportados 5.176, mostrando importante déficit diversificação comercial do país;

3 - Nove dos 10 principais produtos exportados (em ordem de valor) são básicos – agrícolas ou minerais – e representam 41% da receita brasileira com comércio exterior. Pelo lado das importações, sete entre 10 são mercadorias industrializadas. O grupo representa 20,5% das compras internacionais do país. Em resumo falta diversificação em nossa matriz de vendas externas.

4 – Agora, nas relações com os parceiros comerciais, o principal destino exportador brasileiro é a China, que já concentra 13,8% de nossas vendas internacionais. Cada kg exportado para o citado país, rende ao redor de US$ 0,14. Por outro lado, mesmo com um grande coquetel de práticas desleais de comércio, os embarques chineses para o Brasil tiveram, em agosto, o preço médio de US$ 3,43. Por mais que doa, temos que admitir que o quilo de China está valendo quase 25 vezes a mais do que o quilo de Brasil. Tal tipo de relação não era vista nem na época em que nosso país era colônia de Portugal.

5 - E como deve ser essa medida nas trocas com os “gananciosos” norte-americanos? Nosso preço médio de exportação é de US$ 0,65 e o de importação US$ 1,03. Sem dúvida uma relação bem mais próxima do que poderíamos chamar de equilíbrio comercial. Quem é o ganancioso, diante de tal fato?

6 – Outro dado periclitante: de agosto de 2008 até o mês passado, os 10 principais parceiros comerciais do Brasil pularam de 51% para 54% em termos de participação das exportações nacionais. Isso é um temeroso retrocesso, dado o aumento de concentração das vendas em poucos mercados. No caso das importações, a relação piorou ainda mais: os 10 maiores exportadores para o Brasil representavam 56,8% em agosto de 2008 e pularam para 63,5%, de acordo com a última informação disponível.

Em resumo, o que mostram tais dados?


Se por um lado, o Brasil conseguiu reagir, em termos absolutos, no que se refere aos valores exportados e sustentação de uma balança comercial positiva (graças ao agronegócio e minérios), por outro a qualidade de nossas relações comerciais estão piorando a olhos vistos.

Não é só aparente a percepção de que estamos reassumindo a posição de produtor periférico (produtos básicos) que foi criticada por décadas a fio, especialmente, pelos economistas que hoje estão no governo federal.

Evidentemente não condeno o avanço do agronegócio no país. Isso é fundamental para o desenvolvimento, mas não elimina a necessidade de aumentar a competitividade nacional no âmbito das mercadorias com maior agregação de valor, especialmente aquelas com elevada intensidade de tecnologia embarcada, que são, realmente, os produtos mais dinâmicos do mercado global.

Além da deterioração da competitividade industrial, chama atenção os sérios problemas de concentração das relações comerciais em poucos países. Isso gera riscos de dependência econômica e indica que o Itamaraty poderia estar trabalhando melhor e mais pragmaticamente em suas ações diplomáticas.

Melhor começar a pensar mais seriamente nessas questões.


Uma política industrial e de comércio exterior deve ser levada a sério. Senão, o Brasil tenderá a limitar suas ambições em ser a maior fazenda do mundo, com algumas competências específicas.

Isso é muito pouco!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A Inflação Brasileira em Tempos de Crise Global

É sabido que a inflação brasileira permaneceu em patamares baixos desde o início da recessão interna, ocasionada pela crise financeira global. De setembro até julho, o IPCA (IBGE) registrou alta de apenas 3,94%.

Projetando esse percentual para o ano, os preços ao consumidor ficariam restritos a 4,7%, o que está bem dentro da normalidade do padrão inflacionário do país nos últimos tempos. Tocando na mesma tecla da semana passada, a inflação não justifica o congelamento dos juros.

Mas a variação dos preços em questão tem alguns aspectos curiosos, dignos de serem analisados.

Verifique o gráfico abaixo e repare que há grandes diferenças na evolução de preços em cada um dos grupos de produtos que perfazem a cesta de consumo dos brasileiros.

Os segmentos que cresceram acima da inflação média (em vermelho) conquistaram ganho real de preço. Em resumo, a cadeia produtiva ligada a tais complexos de mercadoria tiveram melhoria de margem de lucro. Ao contrário, os grupos com percentual abaixo do Índice Geral, amargaram perda de preço relativo.
Normalmente a grande imprensa - para cair no gosto do senso comum - acaba demonizando os produtos com maior alta de preços. Mas é só perguntar para os repórteres, editores ou donos dos veículos se eles acham que deveriam ganhar mais pelas suas atividades; que ninguém diria que não.


Aparentemente, existe a lei de que a inflação acontece sempre quando os outros sobem os preços... Mas quando o interesse é próprio, o argumento vai para a recuperação do poder de compra, ou justa melhoria de remuneração.


No frigir dos ovos, aumenta os preços quem pode; quem tem mercadoria que continuará a ser consumida, mesmo custando mais caro.


E isso tem muito a ver, por um lado, com a percepção do consumidor da utilidade do produto em cada época, além, é claro da concorrência de mercado e, eventualmente, de políticas públicas.


Esse último fator foi de grande força no setor de transportes, cujos preços só aumentaram 0,26%. Tal resultado foi obtido graças a redução de 8,4% do preço médio dos automóveis novos, por conta da redução tributária do produto. No caso dos carros usados, a diminuição de preço chegou a 15,5%. Os combustíveis também registraram leve desvalorização de 0,71%, o que não comprometeu o lucro da Petrobrás, já que o preço do petróleo despencou mais de 50% no mercado internacional.


Já o segmento de comunicações foi beneficiado pela acirrada concorrência das operadoras de celular. O preço médio do telefone móvel caiu 5,6% entre setembro de 2009 e julho último. Em termos de serviços o avanço ficou em 0,4%. Correios e telefones públicos pressionaram a alta do indicador com variações de, respectivamente, 2,37% e 2,66%.


Bem acima da inflação média, os artigos de despesa pessoal (7,78%) mostraram que nos momentos de crise financeira mundial a célebre palavra de ordem do movimento hippie, “sexo, drogas e rock'n'roll”, é levada às vias de fato. Afinal, o grupo de consumo em foco teve como importantes influências de alta os motéis (7,77%), cigarros (27,51% - na verdade alta do IPI) e instrumentos musicais (11,2%).


Finalmente, vamos destacar nessa análise a inflação de 6,4% do vestuário, onde sapatos infantis (10,69%), chinelos masculinos (12,01%), e jóias e bijuterias (13,94%) pressionaram os preços do setor. Por sinal, nos próximos meses, esse segmento tenderá a ganhos mais expressivos por conta de o governo brasileiro ter definido, ontem, sobretaxar os calçados importados da China como retaliação antidumping (prática desleal de comércio).


Trataremos dos grupos de saúde, alimentação e educação e habitação em outra oportunidade.


A conclusão mais importante da presente análise é que, ao contrário do que seria de se esperar, a inflação não está sendo capitaneada pelos produtos mais essenciais.


Veja que os aspectos que fornecem prazer ao ser humano são os itens que mais se valorizaram (no caso do cigarro, temos o aumento do IPI). E antes disso ser algo moralmente condenável, significa uma qualificação do padrão de consumo, mesmo que eventualmente faça mal à saúde (bebidas alcoólicas, junto com cigarros, tiveram altas significativas de preço).


O importante é superar a subsistência. E se em um período de aumento do desemprego, são os supérfluos que estão ganhando valor no mercado, isso significa que a população está cortando gorduras (excessos) no âmbito das mercadorias essenciais (como alimentos), inibindo maiores altas de preços pela velha Lei da oferta e demanda.


Então, sob esse ponto de vista, o Brasil mostra evolução.


Curtas


1) Dois pesos pesados da economia norte-americana não estão levando fé no real re-erguimento do país. Erik Mankin, Nobel de 2007, defende que Barack Obama aumente ainda mais os estímulos, que ainda são – segundo ele – insuficientes para reativar o consumo estadunidense. Já o ex-presidente do Federal Reserve (o Banco Central dos EUA), Alan Greenspan prevê nova crise econômica com data indefinida e motivada pela “natureza humana”. Pessoalmente, entendo que ninguém sabe muito bem o que está falando quando o assunto é o futuro da atual crise. Melhor deixar o tempo e os indicadores objetivos mostrar o caminho que está sendo trilhado pelo globo.