terça-feira, 22 de junho de 2010

As Jabulanis na Economia

A copa do mundo da África do Sul começa a definir as seleções que irão às oitavas de finais. E o interessante é que os times classificados estão razoavelmente fora do que seria esperado em uma situação de normalidade.

No caso o que estaria acontecendo de anormal? Uma tese meio xenofóbica, mas não completamente despropositada, defende que o fiasco das principais seleções européias está no fato de os jogadores naturais daquele continente terem muito pouco espaço nos times da primeira divisão dos países em foco, que preferem contratar craques estrangeiros sem a preocupação de formar categorias de base.



Entretanto, a justificativa dos jogadores é bem mais interessante e engraçada. Segundo eles, a culpa é da bola. Sim, isso mesmo, a culpa é da bola produzida pela Adidas

Dá até para pensar que eles estão sugerindo que é melhor jogar futebol com quadrado, triângulo, ou até bumerangue. Mas alguns cientistas resolveram levar a sério e estudar a situação. Descobriram uma coisa interessante: as bolas têm tolerância limitada a levar pontapés. Em um determinado momento após o chute, a pelota entra em processo de exaustão e perde a estabilidade, provocando desvios na rota inicial do lançamento.

Os bons jogadores sabem formal ou intuitivamente sobre isso e aproveitam o fenômeno para contar com curvatura que surpreendem barreiras e goleiros.

O problema é que a protagonista do mundial em 2010, a Jabulanis, apesar de ser feita para chutar, tem menos tolerância aos pontapés e desestabiliza bem antes do que as outras bolas.

O fenômeno é o responsável por algumas das mais incríveis surpresas da copa do mundo, penalizando tanto goleiros como jogadores; mas sendo o fator de sorte em outras situações.

Bem, algo que desestabiliza antes do esperado tem muita relação com a dinâmica da economia mundial e brasileira dos últimos anos. A verdade, é que depois de setembro de 2008 várias das mais convincentes certezas mostraram-se grandes e vergonhosas besteiras, especialmente no que diz respeito ao mercado de títulos e real poder dos países mais ricos do mundo em manter a estabilidade de suas próprias economias.



E enquanto os jogadores da Copa do Mundo vão tentando aprender a lidar com a Jabulani, a escassez de notícias mais relevantes no campo econômico nos fazem diversificar um pouco o tema central desse blog, que passa a tratar de questões menos urgentes, mas nem por isso desimportantes. Então vamos a elas.



O Congresso dos EUA apóia o Partido Verde...do Brasil – Existe sentimento mais nobre do que proteger a natureza? Claro que sim; mas não é politicamente correto dizer isso. Mesmo assim, seria bom para nós brasileiros deixar os romances restritos à literatura e buscar formas mais pragmáticas de tratar com os interesses públicos.



Um exemplo bem claro dessa idéia de pragmatismo é o documento elaborado pela ONG "Avoied Deforestation" entitulado "Fazendas Aqui, Florestas Lá" que analisa as vantagens econômicas para os Estados Unidos no momento em que os congressistas do país debatem mudanças do código florestal.

A idéia básica do documento é que apoiar a eliminação do desmatamento nos países tropicais como o Brasil fará com que a agricultura norte-americana tenha grande prosperidade.

Segundo estimativa dos autores, se em 2030 o desmatamento nos trópicos for eliminado, o buraco da oferta de soja, carnes e dendê geraria um ganho adicional de US$270 bilhões para o setor primário dos Estados Unidos, que por conta disso passaria a apoiar a concessão de créditos de carbono ilimitados pelo desmatamento e tropical evitado.

Pelo lado do Brasil é evidente que apesar do apelo ambiental, isso significará perda de geração de riquezas. Estudos mais avançados mostram, por exemplo, que a produção primária de nosso país pode ser duplicada pelo simples uso de áreas já degradadas com aptidão para a agricultura.

O dado mais importante do citado estudo é que há um mercado adicional para alimentos no globo estimado em US$270 bilhões para daqui a vinte anos. A questão chave é se o Brasil deve ir atrás da maior parte desse dinheiro, ou se contentar com uma mesada muito menor do que essa, como compensação por não produzir.

Os fundamentalistas do Partido Verde optariam pela segunda opção. Mas o mais razoável seria deixar a receita dos créditos de carbono para áreas realmente estratégicas de preservação da biodiversidade, além daquelas de pouco uso agrícola e que seriam realmente mais rentáveis para produzir oxigênio.



Se esse estudo em foco fosse equivalente a uma Jabulani, o lançamento da seleção dos EUA foi meio torto. Oportunidade de o Brasil matar a bola no peito e contra-atacar.







Engenheiros sem Engenhosidade - Impressionante o dado apresentado recentemente pela CNI: de acordo com entidade máxima de representação dos industriais, cerca de 150.000 vagas de engenheiros não terão como ser preenchidas até 2012 em função da falta de profissionais no mercado. E o problema não está na disponibilidade de vagas nas faculdades do gênero.

O Brasil tem 1374 cursos de engenharia. Entretanto,80% dos estudantes acabam não se formando. Em outras palavras, de 150.000 pessoas que iniciam o curso, apenas 30.000 obtém o diploma.



O estudo, coordenado pelo ex-reitor da USP, Jacques Marcovitch, também destaca que só um entre quatro estudantes possui a formação adequada no ensino básico para cursar engenharia.



De fato, a estrutura educacional brasileira acabou privilegiando as ciências humanas, não é exatamente por uma questão de idealismo, mas por serem cursos de mais baixo custo, além de minimizar as deficiências predominantes dos alunos em matemática, física e química, que são as ciências básicas que mais criam valor quando associadas ao processo produtivo.



Esse é um importante ponto de explicação das dificuldades brasileiras em termos de competitividade industrial e científica.

A correção desse problema só ocorrerá na medida em que o ensino científico for priorizado realmente nas escolas, o que, acima de tudo, envolve cursos de formação de professores de padrão mais elevado.

Estamos diante de um projeto cujos resultados efetivos transcende o intervalo de tempo de uma ou duas gestões de presidente da república. Por conta disso, dificilmente tal questão será abordada com seriedade nos debates eleitorais que agora estão iniciando.



Aí a Jabulani não tem culpa nenhuma: ela está parada na marca do pênalti, a goleira sem goleiro, mas ninguém chuta a bola pois, mesmo sem chance de erro, a trajetória é longa demais para que o goleador espere ouvir o grito de gol da torcida. Pena!







Curtas







1) Memórias Sacanas - Os EUA e a União Européia saíram na frente e nessa semana foram seguidas pelo Brasil que iniciou, através da Secretaria de Direito Econômico, processo judicial contra 12 fabricantes de memórias para computadores e celulares, acusadas de formação de cartel. Em média, aqueles circuitos impressos respondem por 6% do custo de um computador. Estimativas iniciais dão conta que o preço está inflado em cerca de 20%. Mas o que deve estar realmente atraindo o governo brasileiro foram os US$ 326 milhões que o executivo dos EUA arrecadou em multas do “clubinho”.







2) Quebradeira dos Bancos – Até a semana passada 83 bancos já haviam quebrado nos EUA em 2010. A projeção para o final do ano chega a 140 bancarrotas. Sinal de que a crise financeira iniciada há quase dois anos ainda continua a assombrar...







3) Promessas da China – Pela milionésima vez o banco central chinês prometeu desatrelar a sua moeda (Yuan) do dólar. Lógico que as autoridades do país não permitiram que isso aconteça, pelo menos de forma relevante; que realmente amenize as artificiais vantagens comerciais dos produtos exportados a partir da China. Afinal, é dessa maneira que o Partido Comunista de Mao Tse Tung está mantendo boa parte de 1,3 bilhão de pessoas de barriga cheia.







4) Os Tablets Dominarão o Mundo? – Mesmo que tenha sido duramente criticado desde o seu lançamento, o iPad (da Apple) já está provocando mudanças radicais na indústria global de computadores. De acordo com a consultoria Forrester, daqui a 5 anos 25% das máquinas do gênero serão do tipo idealizado por Steve Jobs. Isso se não surgirem novidades para mudar tudo... o que não é nada improvável.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Dia da Coréia do Norte

1) Nesses primeiros dias da Copa do Mundo, os assuntos da economia estão tão magros quanto o placar dos jogos, com exceção da surra que os alemães aplicaram nos australianos. E daqui a pouco é a vez do Brasil entrar em campo contra a seleção mais fraca do certame: a Coréia do Norte, cujo técnico atribui as chances de vitória de seu time pelo uso da força mental. Será que o campo vai virar um tatame de artes marciais. Vamos esperar para ver... Mas até agora, o que se viu predominantemente foram jogos com nível técnico equilibrado e um tanto quanto burocráticos. Saudades do futebol arte...

2) E as movimentações da economia também estão chatas, burocratizadas. Entretanto, a falta de assunto no noticiário permite que apareçam assuntos secundários, ou até importantes, mas com interpretação, diríamos, um tanto quanto amalucada. É o caso da previsão da Pesuisa Focus (Banco Central) que avalia o crescimento do PIB brasileiro de 2010 entre 7% e 8,1%. Isso ocorreu no embalo da publicidade dada ao produto interno bruto do primeiro trimestre, o qual chegou a quase 9% por conta de uma base comparativa deprimida (entre janeiro e março de 2009) que se propagará até o terceiro trimestre, quando os percentuais de aumento do PIB serão mais generosos. O problema de coerência vai ficar mesmo para o último trimestre do ano, quando o desempenho da economia brasileira deverá ser comparado com igual período de 2009, época na qual a fase mais aguda da recessão global já havia passada e a estrutura produtiva nacional já se encontrava em franca recuperação.

3) E na contra-mão de tal expectativa, temos alguns elementos bem consistentes para antever o arrefecimento da questionável disparada da economia brasileira. Em primeiro lugar, a Selic subiu na semana passada, fazendo com que o nosso país reassuma seu tradicional posicionamento de juros mais altos do mundo. O segundo ponto diz respeito à queda da produção industrial em abril diante de março e intensidade bem mais forte do que o esperado. Se o fenômeno se repetir em maio, o indício de problemas passará a ser encarado como preocupação de grande importância. Finalmente, não se pode desprezar a pesquisa da Serasa que atesta a alta da inadimplência das pessoas físicas pelo sétimo mês consecutivo. Com a elevação de juros, esse indicador corre o sério risco de se acelerar, repercutindo em aumentos ainda maiores do custo do dinheiro, o que é péssimo para quase todos.

4) Que o Brasil goleie a Coréia do Norte. Se o hexa vier, a sociedade brasileira até aceita uns pontos percentuais a menos no crescimento do PIB. É mais ou menos como o moleque meio burro na escola... Tira notas medianas ou ruins; mas se é bom de bola, tá perdoado.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Lorota Industrial

Na postagem anterior desse blog (O Pibão Gabola e a Alta de Juros) foi provado que o aumento do PIB brasileiro no primeiro trimestre não tinha nada de espetacular. Trava-se apenas de uma comparação da atividade econômica com o período de recessão mais agudo dos últimos anos, causado pela crise financeira internacional iniciada em setembro de 2008 e que, aparentemente, ainda está longe de ser definitivamente equacionada.

Agora, avaliando os dados mais recentes – de abril – da produção industrial nacional, além de confirmar a desmistificação de um Brasil crescendo em ritmo chinês, temos indícios de que as fábricas do país estão iniciando uma dinâmica de desaceleração, que tem bons motivos para se ampliar nos próximos meses.

Mas para entender tal situação, primeiramente devemos analisar de forma correta os números que expressam o desempenho do setor.

O que tem sido mais badalado na imprensa é o resultado expresso na coluna avermelhada da próxima tabela, que mede a variação da produção industrial entre abril de 2010 e o mesmo período de 2009. A visão que se tem é maravilhosa. Todos os estados crescendo dois dígitos, com exceção do Rio Grande do Sul, Paraná e Rio de Janeiro.

Entretanto, na coluna azul, ao compararmos o último dado do IBGE com o que aconteceu exatamente há dois anos, a situação fica bem menos eufórica. Dos 13 estados pesquisados, 6 registraram queda do indicador – coincidentemente os mais industrializados do Brasil. Os destaques realmente positivos se resumiram a Goiás, Pernambuco e Ceará, cujas fábricas, aparentemente, resistiram muito bem ao impacto da crise global iniciada em setembro de 2008.

Ou seja, o crescimento “chinês” – como os ufanistas estão falando – não passa da conseqüência da comparação da produção com uma base deprimida. Crescimento para valer, isso não existiu.
 
Até que tal tipo de lorota é perdoável em períodos eleitorais, já que na política brasileira vale tudo pela busca de votos. A mentira é algo corriqueiro.
 
Mas a questão realmente preocupante diz respeito ao desempenho mais recente da produção industrial dos estados brasileiros. Em abril último, na comparação com março, o indicador caiu 6,4% em termos nacionais, só registrando crescimento em Goiás. Nas demais unidades da federação, a atividade das fábricas despencou, conforme mostra a coluna verde.

Tal resultado não é surpreendente. Isso sempre tende a ocorrer no período em questão e é chamado pelos economistas de sazonalidade. O problema é que essa queda esperada da produção industrial deveria ser bem menor do que realmente foi. Por exemplo, ao nível nacional, a retração do indicador na comparação em foco – na média dos últimos 19 anos – foi de 2,95% (coluna cinza). Entretanto, a queda entre abril e março de 2010 chegou a 6,4% (mais do dobro), gerando uma diferença negativa (coluna laranja) de 3,55% entre o que deveria ser e o que acabou realmente acontecendo.
 
Em resumo, de todos os estados pesquisados, apenas Goiás e Espírito Santo acabaram registrando melhoria de performance no período. De resto, o desempenho industrial do país foi negativo. E o mais preocupante é que estamos falando de um dado dos mais atuais; de aproximadamente 40 dias atrás.

A diferença negativa mais pronunciada no Amazonas deixa a pista de que o fenômeno está sendo muito influenciado pela retração da produção de eletroeletrônicos e linha branca, provavelmente por conta da alta do IPI. Mas essa é questão para outra análise.
 
O importante, nesse momento, é ter claro que a indústria brasileira mostra sinais importantes de fraquejar nas últimas semanas e a recente alta da Selic pode - ao longo dos próximos meses - agravar ainda mais a situação.

Mas nada disso supera, em importância, o inicio da Copa do Mundo.

Boa sorte a todos nós!


Curtas



1) Sinal de alerta: a inadimplência dos consumidores subiu 1,9% em maio último diante do mesmo período do ano anterior. Na comparação com abril, a alta foi de 4,3%. O adiantamento do 13º salário deve amenizar a situação nas próximas semanas. Entretanto, fica uma leve desconfiança de que o desempenho do setor de crédito será mais modesto nos próximos tempos.

2) De acordo com a ANAC, o preço médio das tarifas aéreas no Brasil caiu 20,5% em março último diante do mesmo mês de 2009. Prova irrefutável de que a concorrência favorece o bolso do consumidor. Imagine quanto seria o preço do combustível caso a Petrobrás não fosse a monopolista absoluta do setor.



quinta-feira, 10 de junho de 2010

O “Pibão” Gabola e a Alta dos Juros

Em certos momentos, ao ler as principais manchetes do noticiário nacional, lembro dos anos de chumbo. Naquele período entre os governos Costa e Silva e Médici, ao mesmo tempo em que a ditadura baixava o cacete em quem ousasse questionar a “revolução”, a propaganda ufanista poluía nossos ouvidos, olhos e corações (dos mais bobões). Slogans como “Esse é um País que vai para Frente” ou “Ninguém Segura a Juventude do Brasil” ocupavam lugar de destaque nos outdoors das cidades e no vidro traseiro dos carros. E ai de quem fizesse alguma piadinha sobre tais máximas!

Voltando aos dias atuais, o aumento do PIB do primeiro trimestre de 2010 é vendido como o grande golaço do governo federal nesses dias que antecedem a Copa do Mundo. Mas vamos aos fatos: se os números do IBGE estiverem corretos, é inegável que o produto interno bruto brasileiro registrou a expansão de 8,95% entre janeiro e março desse ano e o mesmo período de 2009.

Porém, tal verdade tem lá seu grau de miopia. Afinal, a comparação feita é em relação a um dos períodos de pior desempenho da economia nacional - 1º trimestre de 2009 – quando o PIB caiu 2,4%. E crescer muito a partir de uma base deprimida é sempre mais fácil, na medida em que a infra-estrutura está lá, prontinha para ser novamente usada depois de uma fase de ociosidade.

Para facilitar a compreensão do leitor, façamos a seguinte analogia. Imagine que um sujeito está construindo uma estrada no meio do mato. Em um determinado momento ele se dá conta de que esqueceu a marmita em um local 2,4 km atrás. Volta, pega o alimento, retorna à frente de trabalho e continua a montar a rodovia. Em seu relatório de trabalho, ao preencher o indicador de desempenho ele declara: hoje avancei 9,8 km. Na verdade, ele omitiu que percorreu uma parte do caminho por um pedaço de estrada já construído (os 2,4% do PIB que foram perdidos no 1º trimestre de 2009). Seu avanço, então, foi de 7,4km. Sujeitinho malandro, hein?

Agora, voltando à economia pura, a verdade mais científica mostra que a economia brasileira cresceu 6,34% entre o primeiro trimestre de 2008 e os três primeiros meses de 2010. Isso dá uma média anual de 3,12%, o que não tem nada de espetacular. Crescimento chinês? Só se esse percentual dos dois anos chegasse a 18,7% (média anual de 8,97%). Sem rodeios, a gabolice da propaganda oficial inflou em quase três vezes o resultado do desempenho econômico brasileiro, ao comparar a nossa performance com a chinesa. Em tempo: no período de real relevância para comparação (primeiro trimestre de 2008 frente a igual período de 2010), a indústria de transformação brasileira cresceu apenas 1,78%; e a agricultura recuou 0,22%. O crescimento chinês só foi verdade na intermediação financeira (bancos), com expansão de 18,57%. A arrecadação de impostos sobre produtos também foi boa: aumento de 8,57%. Ou seja, estamos falando de um crescimento que não interessa à maioria da sociedade civil brasileira.

Mas o mais sério disso tudo é que o resultado, diríamos, impreciso, do crescimento do PIB de 9,8% ter embasado o Conselho de Política Monetária a subir os juros básicos brasileiros (SELIC) para 10,25% ao ano, enquanto a produção industrial já mostra sinais de queda e a inflação está em recuo.

O “Pibão Gabola”, então, é uma excelente peça de marketing. Fiquemos todos eufóricos. Vamos saborear o momento. Mas rápido! Pois o horizonte mostra a formação de nuvens tempestuosas.

P.S. Insisto: ainda acho que tem gente grande dentro do próprio governo federal que quer minar a candidatura de Dilma Rousseff. Subir juros a 4 meses das eleições – e ainda sem razão evidente para isso – é pedir para perder a eleição. Claro que a situação envolve a dependência brasileira dos especuladores externos. Mas esse é tema para outra conversa.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Eleição e Economia em Ritmo de Copa do Mundo

1) A Copa do Mundo é realmente um fenômeno global. Mesmo antes de começar o certame, o desespero do dia a dia acaba cedendo espaço para as preliminares do maior espetáculo esportivo do planeta, cujo interesse, de acordo com as redes de TV, supera até as olimpíadas. Na expectativa do próximo campeão, parece que os grandes problemas econômicos do Mundo e do Brasil tomaram uma dose de analgésico e passaram a incomodar menos do que há algumas semanas. E talvez isso seja bom. Afinal de contas, a crise fiscal na Europa e dúvidas a respeito da consistência do crescimento econômico brasileiro estavam causando sérias dores de cabeça em governos, empresários, sindicatos e outras categorias.

2) Entretanto, o analgésico – apesar de mascarar a dor – é completamente estéril no tratamento efetivo das doenças que causam o sofrimento. Assim, nessa segunda-feira, as bolsas européias mostram que o quadro clínico do Velho Continente ainda está longe de ser tranqüilo: o pregão de Atenas fechou com queda de 5,5%; Lisboa recuou 0,39%; Madri –1,44%; Paris – 1,21%; Frankfurt, -0,51%; e Londres, -1,11%. A raiz da neurose européia é a Hungria. Só porque eles ficaram de fora da Copa, resolveram estragar a festa alheia e expor seus podres de instabilidade fiscal... As porcarias da British Petroleum no Golfo do México também estão tendo sua parcela de culpa na situação.

3) Já no Brasil, a queda do Euro está servindo de desculpa para o Dólar subir. Mas essa relação não é tão direta assim. O que na verdade ocorre é que os prejuízos das bolsas européias fazem os investidores tirarem seu dinheiro do mercado de ações e títulos brasileiros para cobrir prejuízos em outras operações, ou simplesmente para guardar o dinheiro em local mais seguro (como o Tesouro dos EUA, por exemplo). Isso é muito bom para os exportadores de nosso país. O problema é que o governo federal precisa desse dinheiro para girar com o déficit das contas públicas e não pode admitir saídas muito pronunciadas de capital estrangeiro. Por conta disso – e não da inflação – a SELIC pode subir na reunião do Conselho de Política Monetária que ocorrerá nos próximos dias.

4) Subir juros em plena temporada eleitoral? Seria isso burrice? Não, caso a intenção dos principais líderes do executivo federal seja eleger a oposição para tomar conta do Brasil nos próximos quatro anos. Mas por que isso? Simples! Em primeiro lugar, há fortes rumores de que o país, no ano que vem, entrará em forte crise fiscal. Benefícios terão de ser cortados e investimentos cancelados. Se um partido de esquerda fizer isso, ele vira de direita. Então, a hora seria a de passar o bastão. Outra coisa: no ambiente dos bastidores da política nacional tem gente que acredita que caso Dilma Rousseff seja eleita, a carreira de Luiz Inácio da Silva e seus principais aliados estaria condenada à morte. Afinal, o presidente petista, na visão predominante de seus correligionários, deveria ter transformado o Brasil em uma nação socialista e isso não aconteceu. Então, a maior chance do atual presidente voltar com força daqui a 5 anos é simplesmente entregar a batuta para José Serra e confiar que ele faça um governo bem antipático. Caso Rousseff ganhe a parada, o atual presidente tenderá a ter menos importância do que Itamar Franco no governo FHC, sem resguardar proporções.

5) Nesse caso, se eu fosse presidente do país, certamente daria uma colher de chá para o meu opositor... E tal cenário político, de o Presidente Luiz Inácio da Silva tentar, disfarçadamente, eleger José Serra ficará mais flagrante caso a Selic suba nos próximos dias, lembrando que a justificativa inflacionária é, nesse caso de alta de juros, pura balela.

terça-feira, 1 de junho de 2010

O Futuro (Próximo) do Comércio Global

Falta pouco mais de 3 meses para que o estopim que fez explodir a crise financeira mundial complete o seu segundo aniversário.

E ao contrário das previsões mais otimistas, a recuperação do comércio global ainda está longe de ser uma realidade.

De acordo com nossas estimativas preliminares, as importações totais do planeta devem ter chegado, no primeiro trimestre de 2010 a US$ 3,4 trilhões. Tal montante materializa um crescimento de 23,7% diante do mesmo período do ano anterior (período mais agudo da crise), mas é ainda 15% inferior ao comércio internacional verificado em igual espaço de tempo em 2008.

Se considerarmos o apogeu das trocas, entre abril e junho do mesmo 2008, a defasagem vai para 21,6%.

Em palavras mais claras, está faltando cerca de US$ 942 bilhões no mercado internacional. Esse valor, em termos de riqueza global, seria mais ou menos equivalente a tirar o Brasil do mapa.

A boa notícia é que os dados parciais das importações globais computados até março último mostram uma dinâmica de recuperação moderada que, caso continuasse no mesmo ritmo, permitiria a efetiva retomada do crescimento do comércio internacional a partir de meados, ou final do ano que vem.

Por exemplo, as importações dos EUA fecharam o primeiro trimestre deste ano em US$ 440 bilhões, o que é 20,7% superior ao mesmo período de 2009, mas ainda 15% abaixo dos três primeiros meses de 2008. Os principais países de maior participação nas trocas internacionais, que têm dados fechados até março último, estão em situação similar: o Japão registra crescimento de 22,6% frente a igual período de 2009 e queda de 13% diante dos mesmos meses de 2008; a França apura resultados de, respectivamente, 15,2% e -18%.

A China só divulgou informações até dezembro. Assim, no último trimestre do ano passado, o país oriental acumulou alta de 22,3% diante do quarto trimestre de 2008 e crescimento da ordem de 11% frente aos últimos três meses de 2007. Evidentemente, os parâmetros de avaliação para a economia chinesa têm de ser diferenciados, dado o ritmo de expansão do país, que ainda possui larga capacidade de explorar o enorme volume da força de trabalho como fator diferencial de expansão da produção e, conseqüentemente, de negócios internacionais.

Porém, apesar de meio esquecido pela mídia nos últimos dias, a grande incerteza sobre o futuro vem da Europa. O estouro das contas públicas gregas (seguidas da Espanha e Portugal) colocaram em cheque muito mais do que a capacidade do país em gerir suas finanças.

O problema é que para evitar um desastre maior em setembro de 2008, os principais bancos centrais do Velho Mundo seguiram o exemplo dos EUA e bancaram os furos do sistema financeiro através de trilionárias emissões de títulos. Pelo outro lado, os juros caíam para evitar colapso do consumo.

Em outras palavras, o que estava sendo feito era colocar dinheiro bom em negócios provavelmente ruins, sendo que para isso foi necessário pedir valores emprestados, pagando menos do que antes.

A falta de melhores negócios e a grande credibilidade da União Européia fizeram com que tal iniciativa, aparentemente maluca, desse certo naquela época.

Entretanto, o grande susto de cataclismo financeiro já passou. Quem tem dinheiro, aos poucos, vai perdendo o medo e busca fontes mais rentáveis de investimento. E com o fiasco grego, é claro que a desconfiança sobre os títulos em Euro aumentaram. E isso é risco para a atividade econômica mundial.

Nos próximos meses será interessante observar a evolução das importações globais, pois elas expressarão os primeiros efeitos do que poderíamos chamar de segundo round da crise global.
 
Então, vamos aguardar para ver se terão nocautes, ou só umas trocas de tabefes de poucas conseqüências.