sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Lorotas Pibarianas

1) Há algumas horas o IBGE divulgou o resultado do PIB brasileiro no primeiro semestre de 2010. E o percentual de crescimento foi digno de motivar uma festa daquelas bem ufanistas. Afinal, de acordo com o dado oficial, o Brasil registrou o maior crescimento econômico dos últimos 14 anos: 8,88% na comparação com o período compreendido entre janeiro e junho do ano passado.

 
2) Como já disse em outras análises, é fácil crescer sobre uma base comparativa deprimida. O primeiro semestre do ano passado foi o epicentro da crise mundial e naquela época o PIB brasileiro acabou recuando 1,9%. No caso em questão, um cálculo mais realista seria comparar o crescimento médio semestral entre 2010 e 2008. De acordo com essa lógica, o desempenho médio do país no período ficou em 3,36%, o que não tem nada de espetacular.

3) Ainda mais: simplesmente o fato de o PIB crescer não quer dizer que esse crescimento está em acordo com os interesses nacionais. Veja, por exemplo, que a expansão da indústria de transformação entre o primeiro semestre de 2008 e o mesmo período de 2010 foi de mirrados 1,14% (média anual 0,57%); a agropecuária ficou com 4,56% (média de 2,25%); e o comércio, com desempenho melhor, cresceu 7,9% (média de 3,9% ao ano).
 
4) Bom mesmo foi desempenho da arrecadação de impostos federais, com alta de 9,38% ( média de 4,6% ao ano) e da intermediação financeira - leia-se bancos - com generosos 15,52% (7,48% ao ano), grande parte dos quais por conta da apropriação de parte do desempenho do comércio. Em resumo, quem mais enriquecendo no país é o governo e o setor financeiro. Será que isso é estrategicamente interessante? Acredito que não.

5) um outro aspecto que não pode ficar fora de visão é que os dados do PIB refletem a realidade de janeiro a junho deste ano. Entretanto, checando o calendário verifico que estamos em setembro, momento no qual a realidade econômica é bem diferente. O desempenho industrial do país, depois de rápida recuperação no início do ano (em relação a 2008, para que 2009 não serve como base comparativa realistas) voltou a cair. Em julho a queda já chegou a 2,8%, centrada especialmente no setor metal mecânico que é o maior gerador de valor agregado da indústria nacional.
 
6) Outros dados preliminares, ainda não oficiais, dão conta do esgotamento da capacidade de crédito do consumidor brasileiro em acompanhamento com a desaceleração das vendas físicas do comércio.
 
7) Em síntese, insisto que a euforia dos números de curto prazo são circunstanciais e temporárias. A taxa de investimento no Brasil está em níveis ridículos, tanto no âmbito público como privado, e isso compromete o desempenho futuro da economia. Deseja-se, evidentemente, o melhor para o país. Mas a bem da verdade, miopia pré-eleitoral nunca fez bem a ninguém.



Curtas





1) Até ontem, a estrada que liga a China ao Tibete comemorava o seu terceiro dia de engarrafamento ininterrupto de 120km. Na semana passada foi debelado outro congestionamento que chegou a durar 9 dias. Isso se chama “colapso do sistema de trânsito”. Ocorre quando o espaço rodoviário por carro fica tão restrito, que o melhor é abandonar o veículo e seguir a pé. O Brasil não está longe de viver esse fenômeno. A solução é aumentar a infra-estrutura rodoviária, melhorar a qualidade e quantidade dos transportes públicos e diminuir o tamanho dos veículos em circulação.