Seria, então, de se esperar que os eventos que causaram o quase colapso financeiro global nos últimos meses do ano passado criassem espaço para algum novo player. Mas se isso aconteceu, ainda não é perceptível.
A tabela a seguir se refere ao grupo de 47 países que disponibilizaram informações mais recentes de suas exportações, correspondendo a cerca de 85% do comércio global.
Primeiramente, é importante observar que o grupo de nações em questão registraram queda conjunta de 22,6% das vendas internacionais, significando uma perda de aproximadamente US$1,5 trilhões entre outubro de 2007 a abril de 2008 na comparação com igual período subseqüente.
A perda, em diferentes níveis, foi generalizada. O único dentre os países que detêm mais de 1% do comércio global a expandir exportações foi a Austrália, cuja participação cresceu de 1,4% para 1,89%. O Brasil, a despeito da queda moderada em termos absolutos, também aumentou seu cortejo de vendas internacionais passando para 1,79% do total. Interessante notar que esses dois países apuraram tais resultados baseados no poderio agropecuário.
Entretanto, quem realmente aumentou de forma significativa a participação no comércio global foi a China, que pulou de 11,72% para 13,7% no período em foco, desbancando a Alemanha da posição de maior exportadora do mundo. Vale dizer que esse ganho de posicionamento não ocorreu, simplesmente, pela melhoria da competitividade, de acordo com o que reza o senso comum.
Os chineses mostram serem bastante pragmáticos quando o assunto é vender. Além de um posicionamento cambial questionável, o governo do país faz vistas grossas a outros tipos de práticas desleais de comércio.
Por exemplo, hoje, a Folha de São Paulo destacou a falsificação de marcas brasileiras de produtos metalúrgicos e moda, a serviço de Pequim. Essa prática já é bem famosa, especialmente no âmbito dos eletroeletrônicos. Fontes não confirmadas até falam de clones de carros da Mercedes Benz, Iphones e outras mercadorias que são o sonho de consumo de milhões de pessoas.
Poderíamos dizer algo como: “Que coisa feia”.
Mas isso, aparentemente, não serve para mudar tal realidade. Afinal, junto com a expansão comercial eticamente questionável, os chineses desenvolvem, em paralelo, algo que já deve ser a segunda mais poderosa força militar do planeta. E com isso não se brinca... o normal é se acovardar e tapar o sol com a peneira.
Efetivamente, quem está perdendo com a situação em termos geopolíticos (tanto em relação à crise global, como quanto ao crescimento chinês a partir da desobediência às boas práticas do comércio internacional) é a União Européia. Alemanha, Países Baixos, França, Itália, Bélgica e Reino Unido, perderam, conjuntamente 1,74% de participação no mercado global.
Para os EUA, a situação relativa até melhorou: o enfraquecimento do dólar minimizou as perdas exportadoras do país, que acabou papando 1,06% adicionais de presença nas vendas internacionais do mundo.
Outro aspecto importante - e negativo, caso se mantenha - é que a concentração do comércio global aumentou no decorrer da crise. As nações de menor expressividade (Outros, na tabela acima) perderam 1,46% de participação comercial.
Uma vez que os dados ora em análise se referem até abril último e os indícios de recuperação do fluxo mundial de mercadorias começaram a aparecer somente em junho, é (pouco) possível que uma nova expansão venha a reverter o quadro em foco.
Isso seria salutar para o mundo.