segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A China Continua Dando as Cartas no Comércio Global



É comum que nos momentos de crise internacional surjam oportunidades para a ascensão de novas potências no mercado internacional. Na história recente, a Coréia do Sul soube aproveitar seu momento especial nos anos 80, enquanto a China iniciou forte expansão a partir da década seguinte.

Seria, então, de se esperar que os eventos que causaram o quase colapso financeiro global nos últimos meses do ano passado criassem espaço para algum novo player. Mas se isso aconteceu, ainda não é perceptível.

A tabela a seguir se refere ao grupo de 47 países que disponibilizaram informações mais recentes de suas exportações, correspondendo a cerca de 85% do comércio global.

Primeiramente,
é importante observar que o grupo de nações em questão registraram queda conjunta de 22,6% das vendas internacionais, significando uma perda de aproximadamente US$1,5 trilhões entre outubro de 2007 a abril de 2008 na comparação com igual período subseqüente.

A perda, em diferentes níveis, foi generalizada. O único dentre os países que detêm mais de 1% do comércio global a expandir exportações foi a Austrália, cuja participação cresceu de 1,4% para 1,89%. O Brasil, a despeito da queda moderada em termos absolutos, também aumentou seu cortejo de vendas internacionais passando para 1,79% do total. Interessante notar que esses dois países apuraram tais resultados baseados no poderio agropecuário.

Entretanto, quem realmente aumentou de forma significativa a participação no comércio global foi a China, que pulou de 11,72% para 13,7% no período em foco, desbancando a Alemanha da posição de maior exportadora do mundo. Vale dizer que esse ganho de posicionamento não ocorreu, simplesmente, pela melhoria da competitividade, de acordo com o que reza o senso comum.

Os chineses mostram serem bastante pragmáticos quando o assunto é vender. Além de um posicionamento cambial questionável, o governo do país faz vistas grossas a outros tipos de práticas desleais de comércio.

Por exemplo, hoje, a Folha de São Paulo destacou a falsificação de marcas brasileiras de produtos metalúrgicos e moda, a serviço de Pequim. Essa prática é bem famosa, especialmente no âmbito dos eletroeletrônicos. Fontes não confirmadas até falam de clones de carros da Mercedes Benz, Iphones e outras mercadorias que são o sonho de consumo de milhões de pessoas.

Poderíamos dizer algo como: “Que coisa feia”.

Mas isso, aparentemente, não serve para mudar tal realidade. Afinal, junto com a expansão comercial eticamente questionável, os chineses desenvolvem, em paralelo, algo que já deve ser a segunda mais poderosa força militar do planeta. E com isso não se brinca... o normal é se acovardar e tapar o sol com a peneira.

Efetivamente, quem está perdendo com a situação em termos geopolíticos (tanto em relação à crise global, como quanto ao crescimento chinês a partir da desobediência às boas práticas do comércio internacional) é a União Européia. Alemanha, Países Baixos, França, Itália, Bélgica e Reino Unido, perderam, conjuntamente 1,74% de participação no mercado global.

Para os EUA, a situação relativa até melhorou: o enfraquecimento do dólar minimizou as perdas exportadoras do país, que acabou papando 1,06% adicionais de presença nas vendas internacionais do mundo.

Outro aspecto importante - e negativo, caso se mantenha - é que a concentração do comércio global aumentou no decorrer da crise. As nações de menor expressividade (Outros, na tabela acima) perderam 1,46% de participação comercial.

Uma vez que os dados ora em análise se referem até abril último e os indícios de recuperação do fluxo mundial de mercadorias começaram a aparecer somente em junho, é (pouco) possível que uma nova expansão venha a reverter o quadro em foco.

Isso seria salutar para o mundo.



sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Os Efeitos da Crise Global na Empregabilidade dos Estados



O Brasil é um país muito grande e ainda com enorme espaço para crescimento com o mero preenchimento de fronteiras econômicas não ocupadas. Por isso, quando o país enfrenta problemas sérios de dinâmica econômica, isso necessariamente não significa redução do número de empregos formais disponíveis.

Entretanto, como tivemos uma evolução demográfica bastante acelerada até a década de 80 (crescimento da população acima de 2% ao ano) o número de pessoas com idade para entrar no mercado de trabalho vem crescendo, hoje, dentro dos parâmetros da natalidade de duas décadas antes (aproximadamente).

Sendo assim, mesmo que de um ano para outro a disponibilidade de empregos aumente, isso não signifique que as necessidades de ocupação dos trabalhadores do país esteja saciada.

E nos primeiros sete meses de 2009, observamos uma brutal queda na geração líquida de postos de trabalho formal (admissões menos demissões), o que redundou no aumento do desemprego no país.

São Paulo, por exemplo, gerou 192 mil posições com carteira assinada no decorrer desse ano, frente 641 mil no mesmo período de 2008. Ou seja, a vitalidade empregatícia da economia paulista foi de apenas em 30% relação ao período comparativo. Na verdade, a locomotiva econômica do Brasil foi o quarto estado de maior frustração de empregabilidade, como é possível verificar na última coluna da tabela abaixo.


Minas Gerais, Amazonas, Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo e outros estados de forte base industrial também tiveram impactos bastante sérios. Mas das maiores economias do país, as principais dificuldades ocorreram no Rio Grande do Sul que gerou, em 2009, apenas 6,12% dos empregos formais registrados em 2008. Isso se deve a maior exposição do Estado à crise global pela sua tradição exportadora, associado à velha tecla do problema cambial que simplesmente dinamitou possibilidades de internacionalização de segmentos tradicionais, como o calçadista de grande intensidade do uso de mão-de-obra.

Mas de uma forma geral, os estados mais afetados pela desaceleração econômica foram os de maior grau de industrialização e intensidade de turismo internacional, como o Rio Grande do Norte.

No presente momento, Rondônia é que não tem do que reclamar. Foi a única unidade da Federação, cuja empregabilidade aumentou no período em análise. Provavelmente, a aproximação das obras de construção de usinas hidrelétricas ao longo do Rio Madeira tenham alavancado essa situação privilegiada







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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Indústria Paga o Pato da Crise

Está certo quem diz que os números não mentem. Mas também é verdade que eles podem enganar.

Certas horas, devemos deixar de levar tão a sério o que os gestores públicos de primeiro e segundo escalão falam. Afinal,
eles têm que vender o seu peixe, e isso pode exigir certas omissões ou manipulações de informações, tanto do lado governista, como da oposição.

No caso dos efeitos da crise mundial na economia brasileira, a negação da realidade acabou por potencializar resultados ainda mais negativos. E isso pode ser conferido através de informações objetivas, diretamente ligadas à produção, como a geração de emprego formal.

A tabela a seguir mostra o comportamento dessa variável em dois momentos históricos completamente diferentes: o primeiro envolve o período entre janeiro e julho do ano passado, quando a economia global estava bombando e o Brasil acompanhando tal movimento de expansão, especialmente no que se refere à exportação de commodities e crescimento do comércio varejista interno.

Entretanto, o quadro mudou completamente após setembro de 2008. Entre janeiro e julho de 2009, a geração líquida de empregos (admissões-demissões) foi 72% inferior ao registrado no mesmo período do passado. As 437,8 mil vagas criadas no espaço de tempo em questão são insuficientes para evitar a alta do desemprego. Para isso deveriam ser criados pelo menos um milhão de novos postos de trabalho, com o objetivo de fazer frente ao número de pessoas esperadas para entrar no mercado de trabalho, segundo a dinâmica demográfica brasileira.





Mas o
mais grave é que a perda de empregabilidade está concentrada nos segmentos produtivos que teoricamente deveriam ser os mais dinâmicos. A indústria, por exemplo, registrou queda de 126,9 mil vagas e o comércio reduziu em 2 mil postos sua oferta de trabalho do país.

Ao mesmo tempo, todo o esforço oficial em reativar a economia via construção civil terminou por gerar apenas pouco menos de 50% do emprego setorial apurado no ano passado. O agronegócio foi melhor, mas não ficou muito distante disso.

Voltando a questão da industrial, um dos fatores conhecidos a justificar desempenho tão pífio é a situação cambial (a que nos referimos na postagem de 18 de agosto), que inibe exportações e incentiva artificialmente a aquisição de produtos estrangeiros.

Essa é uma situação que deve ser resolvida o mais cedo possível. Para tanto, as autoridades monetárias devem parar de bancar as ingênuas e criar mecanismo de contenção dos ataques especulativos ao Real, como atualmente acontece.

Outra coisa: até prova em contrário, a crise global liquidou com o debate secular a respeito da conveniência ou não da intervenção dos governos nos negócios privados. A melhor resposta é: se isso é interessante para a competitividade do país e melhor produtividade social, é claro que sim; se for para criar regras que impeçam o empreendedorismo é melhor não.

Isso lembra que a última política industrial brasileira realmente levada à sério ocorreu ainda no tempo dos governos militares. Olhando para o mundo, observamos que as grandes potências econômicas bancaram os rombos nas principais empresas. Mas como troca, exigiram mais juízo nas questões financeiras, além de projetos que garantam a liderança e prosperidade futura em ramos produtivos selecionados.

No Brasil, nada contra apoiar o agronegócio. Mas isso é pouco. Algumas de nossas indústrias mostram grande potencial de se tornarem líderes globais. Elas devem ser apoiadas, antes que outro país tome a frente... E isso não tem nada de contraditório em promover a prosperidade das empresas de pequeno porte; muito antes pelo contrário. A não ser em casos excepcionais, ninguém nasce grande!

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terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Tal do Efeito W ou a Volta da Mãe Dinah

Quem se lembra de Mãe Dinah? Ela é uma vidente que conquistou muita fama em meados dos anos 90 por defender, como suas, previsões que acabaram acontecendo, a exemplo da morte dos componentes do grupo Mamonas Assassinas em 1996.

Ganhando notoriedade, a profeta soltou o verbo
e acabou amargando alguns fiascos difíceis de serem justificados, como a vergonhosa derrota de sua própria candidatura a vereadora de um município do interior de São Paulo. Mesmo assim, ela ainda tem uma boa credibilidade residual, o que deve lhe render seu ganha-pão, com a venda de previsões.


Ao que parece, o economista norte-americano Nouriel Roubini, conhecido pela mídia e meio acadêmico como o Dr Apocalipse, está padecendo do mesmo dilema. Afinal, ele acertou (e foi enfático) a previsão da crise global. Mas quem levou mesmo os louros da antecipação do fato foi o agora Nobel, Paul Krugman.

Talvez buscando o mesmo reconhecimento Roubini começa a brincar de franco atirador. Sua ambição pessoal até há algumas semanas era acertar a data na qual a economia mundial iria retomar o crescimento. Mas isso perdeu a graça. Afinal, já existem tantos prognósticos sobre a questão, que é impossível que todos estejam errados.

Então, como provável forma de diferenciação
, o economista soltou um artigo publicado pelo Financial Times e Folha de São Paulo, falando dos fortes riscos de novo aprofundamento recessivo no globo. Seria o chamado efeito W, cujos traços da letra, oscilando entre descendente e ascendente dá a entender, nesse caso, que a recuperação da qual já se tem alguns indícios, poderia ser melada por novo aprofundamento recessivo.

Na base de seus argumentos está a possibilidade de nova disparada dos preços do petróleo e alta dos juros nos países desenvolvidos para combater uma provável inflação. Nesse caso ele cita o exemplo dos EUA, que em 1937 subiu juros e acabou adiando a retomada do crescimento, ainda estagnado pela Grande Depressão de 1929.

Diante de tais argumentos, é bom ponderar as perspectivas de Roubini face aos seguintes aspectos:

1) No momento, há apenas indícios de recuperação da economia global; nada de muito definitivo. Para se ver a consistência do que está ocorrendo na atualidade é necessário esperar por mais alguns meses de indicadores de produção e comércio internacional;

2) O preço do petróleo até pode subir no curto prazo. Mas é pouco provável que se aproxime do pico de quase US$ 250 o barril registrado no ano passado. Afinal, é inegável que estão havendo mudanças de paradigmas energéticos no globo, seja em função da redução de uma dependência geopolítica da OPEP, ou pelos programas de recuperação ambiental. Mesmo com a volta de uma eventual fartura financeira nos moldes do que predominava até setembro do ano passado (improvável que aconteça), é óbvio que as potências não vão querer novamente ficar à mercê do ouro negro. Programas de eficiência energética, novas fontes de geração e até protecionismo comercial a partir da exigência do uso de energia limpa na produção das mercadorias devem se tornar mais fortes doravante.

3) E dizer que os governos vão repetir exatamente a experiência norte-americana no combate à Grande Depressão, seria simplesmente admitir que o ser humano é incapaz de aprender com a própria história. Evidentemente, daqui a algum tempo os países deverão subir juros para conseguir financiar suas dívidas antigas e adicionais, derivadas do custo de bancar as instituições financeiras encrencadas com os títulos da sub-prime. Mas tal diretriz certamente não será radical ao ponto de levar o mundo novamente a uma recessão.

4) Por fim, o modelo de pensamento do Dr. Roubini parece um tanto quanto estático, ignorando o mais óbvio do capitalismo global: a rápida renovação das vitrinas das lojas tem o enorme poder de fazer com que a roda da economia volte a girar aceleradamente. Carros elétricos (e movidos por outras energias), vídeo fone, Windows 7, novos remédios, dentre outras novidades, acabarão fazendo com que a ganância por consumir altere novamente os paradigmas produtivos. A base econômica aumentando no longo prazo, fará com que as dívidas contraídas pelos países seja menos significativa frente ao seu poder de arrecadação tributária, reequilibrando o sistema.

Em resumo, se Roubini acertar sua previsão do W, será mais por sorte do que por dotes proféticos.

Isso me lembra: Mãe Dinah garantiu que Senna seria campeão de Formula I em 1994. Foi triste, mas o principal herói brasileiro da segunda metade do século passado acabou morrendo naquele ano.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Indícios da Recuperação do Comércio Global

Ainda é cedo para se dizer qualquer coisa com certeza. Mas quem está apostando no início da recuperação dos mercados globais tem alguns motivos convincentes para isso.

Na semana passada ganhou bastante repercussão na mídia o dado referente à retomada do PIB japonês no segundo trimestre e a recuperação da produção industrial nos Estados Unidos.

Porém, a informação que parece ser mais consistente diz respeito à aceleração do comércio internacional. Até o fechamento dessa análise, nove países haviam informado o valor de suas importações de junho para o CONTRADE (divisão das Nações Unidas que mapeia o comércio global).

E dentro desse universo ainda limitado, é interessante observar que apenas o Uruguai registrou recuo de compras internacionais em relação a maio. Países do quilate da China, Suíça, Austrália e Turquia apontaram expansão de dois dígitos na medida em foco.

Na tabela a seguir, colocamos também o desempenho importador dos EUA, França, Japão e Reino Unido, referentes a maio, período no qual as compras globais ainda estavam em recuo.

Mas o importante é o dado mais recente, que por enquanto se mostra bem animador. Evidentemente, em função do elevado trauma da crise financeira, o desempenho comparado com as importações de junho de 2008 ainda resultam em percentuais negativos.

Da mesma forma, é importante ter claro que o mundo ainda está muito distante de recuperar seu apogeu de comércio registrado em julho do ano passado. Entretanto, o primeiro passo para que o planeta reencontre o crescimento real (acima do apogeu), aparentemente, está sendo dado.

Provavelmente
, a plena recuperação do comércio global não será noticiada em 2009 ou 2010. Mas o mundo ultrapassou o que se chamaria de fundo do poço. Se os dados parciais positivos de junho forem replicados nos meses seguintes, daí sim poderemos afirmar com maior certeza que os mercados estão se recuperando.

Mas atenção: a realidade predominante até o ano passado talvez nunca mais retorne. Se os bancos centrais do mundo realmente tomaram juízo, a leviandade financeira que acabou detonando a crise não será mais tolerada.

Outra coisa, no momento está ganhando competitividade os produtos focados em oferecer o máximo pelo menor preço, mesmo que isso signifique um sacrifício tolerável de padrões de qualidade.

Em
outras palavras, as marcas de luxo estão perdendo espaço, pelo menos temporariamente, pela visão mais utilitarista do consumidor, que busca maximizar poder de compra, diante de possibilidades financeiras mais modestas.

O Brasil poderia aproveitar mais intensamente essa nova fase, caso a situação cambial se aproxime de patamares razoáveis (real acima de US$ 2,30).