quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Indústria Paga o Pato da Crise

Está certo quem diz que os números não mentem. Mas também é verdade que eles podem enganar.

Certas horas, devemos deixar de levar tão a sério o que os gestores públicos de primeiro e segundo escalão falam. Afinal,
eles têm que vender o seu peixe, e isso pode exigir certas omissões ou manipulações de informações, tanto do lado governista, como da oposição.

No caso dos efeitos da crise mundial na economia brasileira, a negação da realidade acabou por potencializar resultados ainda mais negativos. E isso pode ser conferido através de informações objetivas, diretamente ligadas à produção, como a geração de emprego formal.

A tabela a seguir mostra o comportamento dessa variável em dois momentos históricos completamente diferentes: o primeiro envolve o período entre janeiro e julho do ano passado, quando a economia global estava bombando e o Brasil acompanhando tal movimento de expansão, especialmente no que se refere à exportação de commodities e crescimento do comércio varejista interno.

Entretanto, o quadro mudou completamente após setembro de 2008. Entre janeiro e julho de 2009, a geração líquida de empregos (admissões-demissões) foi 72% inferior ao registrado no mesmo período do passado. As 437,8 mil vagas criadas no espaço de tempo em questão são insuficientes para evitar a alta do desemprego. Para isso deveriam ser criados pelo menos um milhão de novos postos de trabalho, com o objetivo de fazer frente ao número de pessoas esperadas para entrar no mercado de trabalho, segundo a dinâmica demográfica brasileira.





Mas o
mais grave é que a perda de empregabilidade está concentrada nos segmentos produtivos que teoricamente deveriam ser os mais dinâmicos. A indústria, por exemplo, registrou queda de 126,9 mil vagas e o comércio reduziu em 2 mil postos sua oferta de trabalho do país.

Ao mesmo tempo, todo o esforço oficial em reativar a economia via construção civil terminou por gerar apenas pouco menos de 50% do emprego setorial apurado no ano passado. O agronegócio foi melhor, mas não ficou muito distante disso.

Voltando a questão da industrial, um dos fatores conhecidos a justificar desempenho tão pífio é a situação cambial (a que nos referimos na postagem de 18 de agosto), que inibe exportações e incentiva artificialmente a aquisição de produtos estrangeiros.

Essa é uma situação que deve ser resolvida o mais cedo possível. Para tanto, as autoridades monetárias devem parar de bancar as ingênuas e criar mecanismo de contenção dos ataques especulativos ao Real, como atualmente acontece.

Outra coisa: até prova em contrário, a crise global liquidou com o debate secular a respeito da conveniência ou não da intervenção dos governos nos negócios privados. A melhor resposta é: se isso é interessante para a competitividade do país e melhor produtividade social, é claro que sim; se for para criar regras que impeçam o empreendedorismo é melhor não.

Isso lembra que a última política industrial brasileira realmente levada à sério ocorreu ainda no tempo dos governos militares. Olhando para o mundo, observamos que as grandes potências econômicas bancaram os rombos nas principais empresas. Mas como troca, exigiram mais juízo nas questões financeiras, além de projetos que garantam a liderança e prosperidade futura em ramos produtivos selecionados.

No Brasil, nada contra apoiar o agronegócio. Mas isso é pouco. Algumas de nossas indústrias mostram grande potencial de se tornarem líderes globais. Elas devem ser apoiadas, antes que outro país tome a frente... E isso não tem nada de contraditório em promover a prosperidade das empresas de pequeno porte; muito antes pelo contrário. A não ser em casos excepcionais, ninguém nasce grande!

AOS GAÚCHOS: Esqueçam por alguns momentos os dramalhões da política do dia a dia e usufruam de um espetáculo teatral de verdadeiro talento: não deixem de assistir "O Bairro". Maiores informações, logo abaixo.



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