terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Tal do Efeito W ou a Volta da Mãe Dinah

Quem se lembra de Mãe Dinah? Ela é uma vidente que conquistou muita fama em meados dos anos 90 por defender, como suas, previsões que acabaram acontecendo, a exemplo da morte dos componentes do grupo Mamonas Assassinas em 1996.

Ganhando notoriedade, a profeta soltou o verbo
e acabou amargando alguns fiascos difíceis de serem justificados, como a vergonhosa derrota de sua própria candidatura a vereadora de um município do interior de São Paulo. Mesmo assim, ela ainda tem uma boa credibilidade residual, o que deve lhe render seu ganha-pão, com a venda de previsões.


Ao que parece, o economista norte-americano Nouriel Roubini, conhecido pela mídia e meio acadêmico como o Dr Apocalipse, está padecendo do mesmo dilema. Afinal, ele acertou (e foi enfático) a previsão da crise global. Mas quem levou mesmo os louros da antecipação do fato foi o agora Nobel, Paul Krugman.

Talvez buscando o mesmo reconhecimento Roubini começa a brincar de franco atirador. Sua ambição pessoal até há algumas semanas era acertar a data na qual a economia mundial iria retomar o crescimento. Mas isso perdeu a graça. Afinal, já existem tantos prognósticos sobre a questão, que é impossível que todos estejam errados.

Então, como provável forma de diferenciação
, o economista soltou um artigo publicado pelo Financial Times e Folha de São Paulo, falando dos fortes riscos de novo aprofundamento recessivo no globo. Seria o chamado efeito W, cujos traços da letra, oscilando entre descendente e ascendente dá a entender, nesse caso, que a recuperação da qual já se tem alguns indícios, poderia ser melada por novo aprofundamento recessivo.

Na base de seus argumentos está a possibilidade de nova disparada dos preços do petróleo e alta dos juros nos países desenvolvidos para combater uma provável inflação. Nesse caso ele cita o exemplo dos EUA, que em 1937 subiu juros e acabou adiando a retomada do crescimento, ainda estagnado pela Grande Depressão de 1929.

Diante de tais argumentos, é bom ponderar as perspectivas de Roubini face aos seguintes aspectos:

1) No momento, há apenas indícios de recuperação da economia global; nada de muito definitivo. Para se ver a consistência do que está ocorrendo na atualidade é necessário esperar por mais alguns meses de indicadores de produção e comércio internacional;

2) O preço do petróleo até pode subir no curto prazo. Mas é pouco provável que se aproxime do pico de quase US$ 250 o barril registrado no ano passado. Afinal, é inegável que estão havendo mudanças de paradigmas energéticos no globo, seja em função da redução de uma dependência geopolítica da OPEP, ou pelos programas de recuperação ambiental. Mesmo com a volta de uma eventual fartura financeira nos moldes do que predominava até setembro do ano passado (improvável que aconteça), é óbvio que as potências não vão querer novamente ficar à mercê do ouro negro. Programas de eficiência energética, novas fontes de geração e até protecionismo comercial a partir da exigência do uso de energia limpa na produção das mercadorias devem se tornar mais fortes doravante.

3) E dizer que os governos vão repetir exatamente a experiência norte-americana no combate à Grande Depressão, seria simplesmente admitir que o ser humano é incapaz de aprender com a própria história. Evidentemente, daqui a algum tempo os países deverão subir juros para conseguir financiar suas dívidas antigas e adicionais, derivadas do custo de bancar as instituições financeiras encrencadas com os títulos da sub-prime. Mas tal diretriz certamente não será radical ao ponto de levar o mundo novamente a uma recessão.

4) Por fim, o modelo de pensamento do Dr. Roubini parece um tanto quanto estático, ignorando o mais óbvio do capitalismo global: a rápida renovação das vitrinas das lojas tem o enorme poder de fazer com que a roda da economia volte a girar aceleradamente. Carros elétricos (e movidos por outras energias), vídeo fone, Windows 7, novos remédios, dentre outras novidades, acabarão fazendo com que a ganância por consumir altere novamente os paradigmas produtivos. A base econômica aumentando no longo prazo, fará com que as dívidas contraídas pelos países seja menos significativa frente ao seu poder de arrecadação tributária, reequilibrando o sistema.

Em resumo, se Roubini acertar sua previsão do W, será mais por sorte do que por dotes proféticos.

Isso me lembra: Mãe Dinah garantiu que Senna seria campeão de Formula I em 1994. Foi triste, mas o principal herói brasileiro da segunda metade do século passado acabou morrendo naquele ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário