Não será surpresa se os efeitos da crise global iniciada em setembro do ano passado se prorrogarem por mais um ou dois anos.
Mas alguns indicadores anunciados pelos EUA e Japão apontam para o início de uma lenta recuperação. Se isso se confirmar, evidentemente, o comércio mundial começará a reagir.
É pena que, de acordo com as circunstâncias atuais o Brasil corre o sério risco de ficar novamente de fora do novo ciclo de expansão global. A questão é muito simples: a permissividade na entrada de recursos especulativos no mercado financeiro nacional fez com que o nosso real, mais uma vez, chegasse a patamares artificiais de valorização quase proibitivos em termos de viabilização das exportações dos segmentos mais significativos da indústria.
Hoje o dólar fechou a R$1,847, quando deveria estar, pelo menos, nas proximidades de R$2,30.
Isso faz com que as mercadorias brasileiras tenham um custo comparativo mais elevado em relação aos seus concorrentes externos. No frigir dos ovos a viabilidade do comércio internacional de nosso país volta a ficar centrada nas commodities, como predominantemente ocorreu desde a época em que o Brasil não passava de um quintal extrativo de Portugal.
Fica fácil observar pela ilustração abaixo o que vem acontecendo com as exportações nacionais. Enquanto os produtos da base rural (predominantemente commodities) tiveram apenas um pequeno baque nas suas vendas internacionais, as exportações industriais para o exterior simplesmente recuaram de 18,4% desde o início da crise em termos acumulados em doze meses. Tal desempenho é até parecido com o registrado pelos produtos minerais
Mas a situação se mostra em toda a sua gravidade na observação no próximo gráfico que evidencia a brutal queda do preço médio dos produtos exportados pelas manufaturas.
Sendo mais claro, entre o início da crise e o mês passado o valor de cada kg vendido pelo Brasil ao exterior despencou 48% na média dos últimos doze meses. E isso não significa que as mercadorias tupiniquins e ficaram mais baratas, o que estavam trabalhando com margens muito elevadas, o que é proibitivo pela competitividade internacional.
Na verdade, no contexto em questão temos duas situações: a primeira refere-se a quem está cumprindo contratos firmados no início do ano, quando o dólar estava acima de R$ 2,20 e agora amarga prejuízo para poder cumprir o estabelecido; em segundo lugar (e mais relevante) temos a redução do valor agregado das mercadorias exportadas. Foi essa a forma que as indústrias encontraram para se manter ativas no exterior.
Afinal, com redução de liquidez ocorrida no último trimestre de 2008, o dinheiro ficou mais curto para quase todo mundo. Imagina então comprar o mesmo produto mais caro, tendo menos disponibilidade de dinheiro. É um contra-nosso. Mas é isso que está detonando com as já limitadas possibilidades de melhoria de posicionamento das indústrias de nosso país no mercado internacional.
A solução para o problema é aparentemente simples: controlar a entrada de capital especulativo no mercado financeiro do Brasil. Entretanto, quando tal medida é associada à necessidade de reduzir dívida pública e conseqüentemente gastos de custeio do governo federal, para se precisar menos do dinheiro externo, a coisa já fica parecendo menos utópica. Ainda mais que 2010 é ano eleitoral.
Aos industriais incluídos nesse contexto, recomendo duas coisas: 1) criatividade; e 2) pedir uma dose mais forte de lexotan ao seu médico.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário