terça-feira, 18 de agosto de 2009

O Derretimento das Exportações da Indústria Brasileira

Não será surpresa se os efeitos da crise global iniciada em setembro do ano passado se prorrogarem por mais um ou dois anos.


Mas alguns indicadores anunciados pelos EUA e Japão apontam para o início de uma lenta recuperação. Se isso se confirmar, evidentemente, o comércio mundial começará a reagir.

É
pena que, de acordo com as circunstâncias atuais o Brasil corre o sério risco de ficar novamente de fora do novo ciclo de expansão global. A questão é muito simples: a permissividade na entrada de recursos especulativos no mercado financeiro nacional fez com que o nosso real, mais uma vez, chegasse a patamares artificiais de valorização quase proibitivos em termos de viabilização das exportações dos segmentos mais significativos da indústria.

Hoje o dólar fechou a R$1,847, quando deveria estar, pelo menos, nas proximidades de R$2,30.


Isso faz com que as mercadorias brasileiras tenham um custo comparativo mais elevado em relação aos seus concorrentes externos. No frigir dos ovos a viabilidade do comércio internacional de nosso país volta a ficar centrada nas commodities, como predominantemente ocorreu desde a época em que o Brasil não passava de um quintal extrativo de Portugal.

Fica fácil observar pela ilustração abaixo o que vem acontecendo com as exportações nacionais. Enquanto os produtos da base rural (predominantemente commodities) tiveram apenas um pequeno baque nas suas vendas internacionais, as exportações industriais para o exterior simplesmente recuaram de 18,4% desde o início da crise em termos acumulados em doze meses. Tal desempenho é até parecido com o registrado pelos produtos minerais





Mas a situação se mostra em toda a sua gravidade na observação no próximo gráfico que evidencia a brutal queda do preço médio dos produtos exportados pelas manufaturas.

Sendo mais claro, entre o início da crise e o mês passado o valor de cada kg vendido pelo Brasil ao exterior despencou 48% na média dos últimos doze meses. E isso não significa que as mercadorias tupiniquins e ficaram mais baratas, o que estavam trabalhando com margens muito elevadas, o que é proibitivo pela competitividade internacional.
Na verdade, no contexto em questão temos duas situações: a primeira refere-se a quem está cumprindo contratos firmados no início do ano, quando o dólar estava acima de R$ 2,20 e agora amarga prejuízo para poder cumprir o estabelecido; em segundo lugar (e mais relevante) temos a redução do valor agregado das mercadorias exportadas. Foi essa a forma que as indústrias encontraram para se manter ativas no exterior.

Afinal, com redução de liquidez ocorrida no último trimestre de 2008, o dinheiro ficou mais curto para quase todo mundo. Imagina então comprar o mesmo produto mais caro, tendo menos disponibilidade de dinheiro. É um contra-nosso. Mas é isso que está detonando com as já limitadas possibilidades de melhoria de posicionamento das indústrias de nosso país no mercado internacional.

A solução para o problema é aparentemente simples: controlar a entrada de capital especulativo no mercado financeiro do Brasil. Entretanto, quando tal medida é associada à necessidade de reduzir dívida pública e conseqüentemente gastos de custeio do governo federal, para se precisar menos do dinheiro externo, a coisa já fica parecendo menos utópica. Ainda mais que 2010 é ano eleitoral.

Aos industriais incluídos nesse contexto, recomendo duas coisas: 1) criatividade; e 2) pedir uma dose mais forte de lexotan ao seu médico.

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