terça-feira, 22 de junho de 2010

As Jabulanis na Economia

A copa do mundo da África do Sul começa a definir as seleções que irão às oitavas de finais. E o interessante é que os times classificados estão razoavelmente fora do que seria esperado em uma situação de normalidade.

No caso o que estaria acontecendo de anormal? Uma tese meio xenofóbica, mas não completamente despropositada, defende que o fiasco das principais seleções européias está no fato de os jogadores naturais daquele continente terem muito pouco espaço nos times da primeira divisão dos países em foco, que preferem contratar craques estrangeiros sem a preocupação de formar categorias de base.



Entretanto, a justificativa dos jogadores é bem mais interessante e engraçada. Segundo eles, a culpa é da bola. Sim, isso mesmo, a culpa é da bola produzida pela Adidas

Dá até para pensar que eles estão sugerindo que é melhor jogar futebol com quadrado, triângulo, ou até bumerangue. Mas alguns cientistas resolveram levar a sério e estudar a situação. Descobriram uma coisa interessante: as bolas têm tolerância limitada a levar pontapés. Em um determinado momento após o chute, a pelota entra em processo de exaustão e perde a estabilidade, provocando desvios na rota inicial do lançamento.

Os bons jogadores sabem formal ou intuitivamente sobre isso e aproveitam o fenômeno para contar com curvatura que surpreendem barreiras e goleiros.

O problema é que a protagonista do mundial em 2010, a Jabulanis, apesar de ser feita para chutar, tem menos tolerância aos pontapés e desestabiliza bem antes do que as outras bolas.

O fenômeno é o responsável por algumas das mais incríveis surpresas da copa do mundo, penalizando tanto goleiros como jogadores; mas sendo o fator de sorte em outras situações.

Bem, algo que desestabiliza antes do esperado tem muita relação com a dinâmica da economia mundial e brasileira dos últimos anos. A verdade, é que depois de setembro de 2008 várias das mais convincentes certezas mostraram-se grandes e vergonhosas besteiras, especialmente no que diz respeito ao mercado de títulos e real poder dos países mais ricos do mundo em manter a estabilidade de suas próprias economias.



E enquanto os jogadores da Copa do Mundo vão tentando aprender a lidar com a Jabulani, a escassez de notícias mais relevantes no campo econômico nos fazem diversificar um pouco o tema central desse blog, que passa a tratar de questões menos urgentes, mas nem por isso desimportantes. Então vamos a elas.



O Congresso dos EUA apóia o Partido Verde...do Brasil – Existe sentimento mais nobre do que proteger a natureza? Claro que sim; mas não é politicamente correto dizer isso. Mesmo assim, seria bom para nós brasileiros deixar os romances restritos à literatura e buscar formas mais pragmáticas de tratar com os interesses públicos.



Um exemplo bem claro dessa idéia de pragmatismo é o documento elaborado pela ONG "Avoied Deforestation" entitulado "Fazendas Aqui, Florestas Lá" que analisa as vantagens econômicas para os Estados Unidos no momento em que os congressistas do país debatem mudanças do código florestal.

A idéia básica do documento é que apoiar a eliminação do desmatamento nos países tropicais como o Brasil fará com que a agricultura norte-americana tenha grande prosperidade.

Segundo estimativa dos autores, se em 2030 o desmatamento nos trópicos for eliminado, o buraco da oferta de soja, carnes e dendê geraria um ganho adicional de US$270 bilhões para o setor primário dos Estados Unidos, que por conta disso passaria a apoiar a concessão de créditos de carbono ilimitados pelo desmatamento e tropical evitado.

Pelo lado do Brasil é evidente que apesar do apelo ambiental, isso significará perda de geração de riquezas. Estudos mais avançados mostram, por exemplo, que a produção primária de nosso país pode ser duplicada pelo simples uso de áreas já degradadas com aptidão para a agricultura.

O dado mais importante do citado estudo é que há um mercado adicional para alimentos no globo estimado em US$270 bilhões para daqui a vinte anos. A questão chave é se o Brasil deve ir atrás da maior parte desse dinheiro, ou se contentar com uma mesada muito menor do que essa, como compensação por não produzir.

Os fundamentalistas do Partido Verde optariam pela segunda opção. Mas o mais razoável seria deixar a receita dos créditos de carbono para áreas realmente estratégicas de preservação da biodiversidade, além daquelas de pouco uso agrícola e que seriam realmente mais rentáveis para produzir oxigênio.



Se esse estudo em foco fosse equivalente a uma Jabulani, o lançamento da seleção dos EUA foi meio torto. Oportunidade de o Brasil matar a bola no peito e contra-atacar.







Engenheiros sem Engenhosidade - Impressionante o dado apresentado recentemente pela CNI: de acordo com entidade máxima de representação dos industriais, cerca de 150.000 vagas de engenheiros não terão como ser preenchidas até 2012 em função da falta de profissionais no mercado. E o problema não está na disponibilidade de vagas nas faculdades do gênero.

O Brasil tem 1374 cursos de engenharia. Entretanto,80% dos estudantes acabam não se formando. Em outras palavras, de 150.000 pessoas que iniciam o curso, apenas 30.000 obtém o diploma.



O estudo, coordenado pelo ex-reitor da USP, Jacques Marcovitch, também destaca que só um entre quatro estudantes possui a formação adequada no ensino básico para cursar engenharia.



De fato, a estrutura educacional brasileira acabou privilegiando as ciências humanas, não é exatamente por uma questão de idealismo, mas por serem cursos de mais baixo custo, além de minimizar as deficiências predominantes dos alunos em matemática, física e química, que são as ciências básicas que mais criam valor quando associadas ao processo produtivo.



Esse é um importante ponto de explicação das dificuldades brasileiras em termos de competitividade industrial e científica.

A correção desse problema só ocorrerá na medida em que o ensino científico for priorizado realmente nas escolas, o que, acima de tudo, envolve cursos de formação de professores de padrão mais elevado.

Estamos diante de um projeto cujos resultados efetivos transcende o intervalo de tempo de uma ou duas gestões de presidente da república. Por conta disso, dificilmente tal questão será abordada com seriedade nos debates eleitorais que agora estão iniciando.



Aí a Jabulani não tem culpa nenhuma: ela está parada na marca do pênalti, a goleira sem goleiro, mas ninguém chuta a bola pois, mesmo sem chance de erro, a trajetória é longa demais para que o goleador espere ouvir o grito de gol da torcida. Pena!







Curtas







1) Memórias Sacanas - Os EUA e a União Européia saíram na frente e nessa semana foram seguidas pelo Brasil que iniciou, através da Secretaria de Direito Econômico, processo judicial contra 12 fabricantes de memórias para computadores e celulares, acusadas de formação de cartel. Em média, aqueles circuitos impressos respondem por 6% do custo de um computador. Estimativas iniciais dão conta que o preço está inflado em cerca de 20%. Mas o que deve estar realmente atraindo o governo brasileiro foram os US$ 326 milhões que o executivo dos EUA arrecadou em multas do “clubinho”.







2) Quebradeira dos Bancos – Até a semana passada 83 bancos já haviam quebrado nos EUA em 2010. A projeção para o final do ano chega a 140 bancarrotas. Sinal de que a crise financeira iniciada há quase dois anos ainda continua a assombrar...







3) Promessas da China – Pela milionésima vez o banco central chinês prometeu desatrelar a sua moeda (Yuan) do dólar. Lógico que as autoridades do país não permitiram que isso aconteça, pelo menos de forma relevante; que realmente amenize as artificiais vantagens comerciais dos produtos exportados a partir da China. Afinal, é dessa maneira que o Partido Comunista de Mao Tse Tung está mantendo boa parte de 1,3 bilhão de pessoas de barriga cheia.







4) Os Tablets Dominarão o Mundo? – Mesmo que tenha sido duramente criticado desde o seu lançamento, o iPad (da Apple) já está provocando mudanças radicais na indústria global de computadores. De acordo com a consultoria Forrester, daqui a 5 anos 25% das máquinas do gênero serão do tipo idealizado por Steve Jobs. Isso se não surgirem novidades para mudar tudo... o que não é nada improvável.

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