terça-feira, 6 de julho de 2010

A Maldição da Bolsa de Valores

Imagine o seguinte: em fevereiro de 2003 você chegou das férias e gastou bem abaixo do esperado. Sem saber direito o que fazer com dinheiro que sobrou, resolve ouvir o palpite de um amigo e investir na bolsa de valores R$5.000,00.



E não precisando do dinheiro, acaba deixando aquela aplicação de lado, até esquecer da sua existência. Mas lá por março de 2010, depois de anos, você presta atenção a um pequeno envelope que chega pelo correio. É o extrato da corretora de valores, informando os lucros de investimento na bolsa para fins de imposto de renda. Uma feliz surpresa: estava a sua disposição pouco mais de R$23.000.

Como fizemos esse cálculo descontando a inflação, o valor sobe o qual estamos tratando é real. Ou seja, em sete anos a rentabilidade do índice Bovespa foi de 366%, sendo isso equivalente a um ganho médio de 24,6% ao ano. Provavelmente, nem com a agiotagem se ganha tanto dinheiro.

Diante dessa simulação, baseada em um contexto econômico real, é importante questionar qual a base de sustentabilidade de resultados tão espetaculares do mercado de ações do Brasil. De antemão, já dá para descartar da imaginação a idéia de que as empresas brasileiras de capital aberto cresceram o dobro da economia chinesa nos últimos sete anos.

Aparentemente, o fenômeno em questão foi ocasionado por quatro fatores principais, quais sejam:

1) a eventual eleição de Luís Inácio da Silva era vista como forte risco empresarial no Brasil, haja vista o discurso de estatização que predominava (e ainda predomina) no âmbito das lideranças do Partido dos Trabalhadores. Mas o então novo presidente optou por garantir a legitimidade do mercado privado e isso aumentou a confiabilidade do mercado de ações, que acabou recebendo mais investimentos já a partir de 2003;

2) o dinheiro no mundo ficou muito barato e os aplicadores buscaram alternativas mais rentáveis do que investir em títulos da dívida de países com boa situação financeira. O Brasil foi uma das nações premiadas com esse tipo de especulação, que acabou multiplicando a movimentação do mercado de ações;

3) através de competentes campanhas, a bolsa de valores de São Paulo perdeu seu ar aristocrata e passou a ser mais acessível à classe média, seja via corretoras e bancos, ou mesmo pela Internet. Evidentemente, com mais pessoas dispostas a investir, o preço das ações subiu acima das expectativas da evolução do valor patrimonial das empresas;

4) especialmente entre 2006 e 2008 (mas também no final da década de 90) o equivocado consenso de que a economia mundial passava por uma nova era; de crescimento acelerado e eterno, acabou criando o que se chama de bolhas especulativas, aumentando demasiadamente o valor das ações. Tais bolhas estouraram nos principais mercados do mundo; mas no Brasil ganharam sobrevida ou se recuperaram mais rapidamente em função dos outros três fatores mencionados.

Mas, enfim, independentemente se foram por razões consistentes ou mero ilusionismo, o fato é que o índice Bovespa acabou se acelerando em demasia e pelas suas características cíclicas, conforme demonstra ilustração abaixo, tende a registrar sensível recuo, antes de nova fase de expansão.



Na verdade, a crise global iniciada em setembro de 2008 chegou a promover tal correção de valor. Entretanto, o poderio especulativo foi forte o suficiente para reverter a situação.

Com o recrudescimento da crise na Europa, além de incertezas no cenário econômico mundial e brasileiro, o iBovespa fechou junho em baixa, tendência essa que continua em julho, apesar do pregão ter fechado em alta nesse dia 7.

Talvez estejamos em meio ao começo dessa correção cíclica para baixo, ou o fenômeno demorará mais algum tempo para ocorrer.

De acordo com os parâmetros identificados nas situações similares ocorridas anteriormente, o "fundo do poço" tende a estar ao redor dos 45.000 pontos.

É esperar para conferir!

 

Curtas




1) Todos os indices de preços ao consumidor mostram que a inflação que causou duas altas consecutivas da SELIC simplesmente se evaporou junto com a água do excesso de chuvas no sul e sudeste. Comprovadamente os membros do Comitê de Política Monetária do Bacen estavam errados, ou não querem Dilma Rousseff na presidência do Brasil.



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