sexta-feira, 11 de junho de 2010

Lorota Industrial

Na postagem anterior desse blog (O Pibão Gabola e a Alta de Juros) foi provado que o aumento do PIB brasileiro no primeiro trimestre não tinha nada de espetacular. Trava-se apenas de uma comparação da atividade econômica com o período de recessão mais agudo dos últimos anos, causado pela crise financeira internacional iniciada em setembro de 2008 e que, aparentemente, ainda está longe de ser definitivamente equacionada.

Agora, avaliando os dados mais recentes – de abril – da produção industrial nacional, além de confirmar a desmistificação de um Brasil crescendo em ritmo chinês, temos indícios de que as fábricas do país estão iniciando uma dinâmica de desaceleração, que tem bons motivos para se ampliar nos próximos meses.

Mas para entender tal situação, primeiramente devemos analisar de forma correta os números que expressam o desempenho do setor.

O que tem sido mais badalado na imprensa é o resultado expresso na coluna avermelhada da próxima tabela, que mede a variação da produção industrial entre abril de 2010 e o mesmo período de 2009. A visão que se tem é maravilhosa. Todos os estados crescendo dois dígitos, com exceção do Rio Grande do Sul, Paraná e Rio de Janeiro.

Entretanto, na coluna azul, ao compararmos o último dado do IBGE com o que aconteceu exatamente há dois anos, a situação fica bem menos eufórica. Dos 13 estados pesquisados, 6 registraram queda do indicador – coincidentemente os mais industrializados do Brasil. Os destaques realmente positivos se resumiram a Goiás, Pernambuco e Ceará, cujas fábricas, aparentemente, resistiram muito bem ao impacto da crise global iniciada em setembro de 2008.

Ou seja, o crescimento “chinês” – como os ufanistas estão falando – não passa da conseqüência da comparação da produção com uma base deprimida. Crescimento para valer, isso não existiu.
 
Até que tal tipo de lorota é perdoável em períodos eleitorais, já que na política brasileira vale tudo pela busca de votos. A mentira é algo corriqueiro.
 
Mas a questão realmente preocupante diz respeito ao desempenho mais recente da produção industrial dos estados brasileiros. Em abril último, na comparação com março, o indicador caiu 6,4% em termos nacionais, só registrando crescimento em Goiás. Nas demais unidades da federação, a atividade das fábricas despencou, conforme mostra a coluna verde.

Tal resultado não é surpreendente. Isso sempre tende a ocorrer no período em questão e é chamado pelos economistas de sazonalidade. O problema é que essa queda esperada da produção industrial deveria ser bem menor do que realmente foi. Por exemplo, ao nível nacional, a retração do indicador na comparação em foco – na média dos últimos 19 anos – foi de 2,95% (coluna cinza). Entretanto, a queda entre abril e março de 2010 chegou a 6,4% (mais do dobro), gerando uma diferença negativa (coluna laranja) de 3,55% entre o que deveria ser e o que acabou realmente acontecendo.
 
Em resumo, de todos os estados pesquisados, apenas Goiás e Espírito Santo acabaram registrando melhoria de performance no período. De resto, o desempenho industrial do país foi negativo. E o mais preocupante é que estamos falando de um dado dos mais atuais; de aproximadamente 40 dias atrás.

A diferença negativa mais pronunciada no Amazonas deixa a pista de que o fenômeno está sendo muito influenciado pela retração da produção de eletroeletrônicos e linha branca, provavelmente por conta da alta do IPI. Mas essa é questão para outra análise.
 
O importante, nesse momento, é ter claro que a indústria brasileira mostra sinais importantes de fraquejar nas últimas semanas e a recente alta da Selic pode - ao longo dos próximos meses - agravar ainda mais a situação.

Mas nada disso supera, em importância, o inicio da Copa do Mundo.

Boa sorte a todos nós!


Curtas



1) Sinal de alerta: a inadimplência dos consumidores subiu 1,9% em maio último diante do mesmo período do ano anterior. Na comparação com abril, a alta foi de 4,3%. O adiantamento do 13º salário deve amenizar a situação nas próximas semanas. Entretanto, fica uma leve desconfiança de que o desempenho do setor de crédito será mais modesto nos próximos tempos.

2) De acordo com a ANAC, o preço médio das tarifas aéreas no Brasil caiu 20,5% em março último diante do mesmo mês de 2009. Prova irrefutável de que a concorrência favorece o bolso do consumidor. Imagine quanto seria o preço do combustível caso a Petrobrás não fosse a monopolista absoluta do setor.



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