terça-feira, 8 de junho de 2010

Eleição e Economia em Ritmo de Copa do Mundo

1) A Copa do Mundo é realmente um fenômeno global. Mesmo antes de começar o certame, o desespero do dia a dia acaba cedendo espaço para as preliminares do maior espetáculo esportivo do planeta, cujo interesse, de acordo com as redes de TV, supera até as olimpíadas. Na expectativa do próximo campeão, parece que os grandes problemas econômicos do Mundo e do Brasil tomaram uma dose de analgésico e passaram a incomodar menos do que há algumas semanas. E talvez isso seja bom. Afinal de contas, a crise fiscal na Europa e dúvidas a respeito da consistência do crescimento econômico brasileiro estavam causando sérias dores de cabeça em governos, empresários, sindicatos e outras categorias.

2) Entretanto, o analgésico – apesar de mascarar a dor – é completamente estéril no tratamento efetivo das doenças que causam o sofrimento. Assim, nessa segunda-feira, as bolsas européias mostram que o quadro clínico do Velho Continente ainda está longe de ser tranqüilo: o pregão de Atenas fechou com queda de 5,5%; Lisboa recuou 0,39%; Madri –1,44%; Paris – 1,21%; Frankfurt, -0,51%; e Londres, -1,11%. A raiz da neurose européia é a Hungria. Só porque eles ficaram de fora da Copa, resolveram estragar a festa alheia e expor seus podres de instabilidade fiscal... As porcarias da British Petroleum no Golfo do México também estão tendo sua parcela de culpa na situação.

3) Já no Brasil, a queda do Euro está servindo de desculpa para o Dólar subir. Mas essa relação não é tão direta assim. O que na verdade ocorre é que os prejuízos das bolsas européias fazem os investidores tirarem seu dinheiro do mercado de ações e títulos brasileiros para cobrir prejuízos em outras operações, ou simplesmente para guardar o dinheiro em local mais seguro (como o Tesouro dos EUA, por exemplo). Isso é muito bom para os exportadores de nosso país. O problema é que o governo federal precisa desse dinheiro para girar com o déficit das contas públicas e não pode admitir saídas muito pronunciadas de capital estrangeiro. Por conta disso – e não da inflação – a SELIC pode subir na reunião do Conselho de Política Monetária que ocorrerá nos próximos dias.

4) Subir juros em plena temporada eleitoral? Seria isso burrice? Não, caso a intenção dos principais líderes do executivo federal seja eleger a oposição para tomar conta do Brasil nos próximos quatro anos. Mas por que isso? Simples! Em primeiro lugar, há fortes rumores de que o país, no ano que vem, entrará em forte crise fiscal. Benefícios terão de ser cortados e investimentos cancelados. Se um partido de esquerda fizer isso, ele vira de direita. Então, a hora seria a de passar o bastão. Outra coisa: no ambiente dos bastidores da política nacional tem gente que acredita que caso Dilma Rousseff seja eleita, a carreira de Luiz Inácio da Silva e seus principais aliados estaria condenada à morte. Afinal, o presidente petista, na visão predominante de seus correligionários, deveria ter transformado o Brasil em uma nação socialista e isso não aconteceu. Então, a maior chance do atual presidente voltar com força daqui a 5 anos é simplesmente entregar a batuta para José Serra e confiar que ele faça um governo bem antipático. Caso Rousseff ganhe a parada, o atual presidente tenderá a ter menos importância do que Itamar Franco no governo FHC, sem resguardar proporções.

5) Nesse caso, se eu fosse presidente do país, certamente daria uma colher de chá para o meu opositor... E tal cenário político, de o Presidente Luiz Inácio da Silva tentar, disfarçadamente, eleger José Serra ficará mais flagrante caso a Selic suba nos próximos dias, lembrando que a justificativa inflacionária é, nesse caso de alta de juros, pura balela.

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