Falta pouco mais de 3 meses para que o estopim que fez explodir a crise financeira mundial complete o seu segundo aniversário.
E ao contrário das previsões mais otimistas, a recuperação do comércio global ainda está longe de ser uma realidade.
De acordo com nossas estimativas preliminares, as importações totais do planeta devem ter chegado, no primeiro trimestre de 2010 a US$ 3,4 trilhões. Tal montante materializa um crescimento de 23,7% diante do mesmo período do ano anterior (período mais agudo da crise), mas é ainda 15% inferior ao comércio internacional verificado em igual espaço de tempo em 2008.
Se considerarmos o apogeu das trocas, entre abril e junho do mesmo 2008, a defasagem vai para 21,6%.
Em palavras mais claras, está faltando cerca de US$ 942 bilhões no mercado internacional. Esse valor, em termos de riqueza global, seria mais ou menos equivalente a tirar o Brasil do mapa.
A boa notícia é que os dados parciais das importações globais computados até março último mostram uma dinâmica de recuperação moderada que, caso continuasse no mesmo ritmo, permitiria a efetiva retomada do crescimento do comércio internacional a partir de meados, ou final do ano que vem.
Por exemplo, as importações dos EUA fecharam o primeiro trimestre deste ano em US$ 440 bilhões, o que é 20,7% superior ao mesmo período de 2009, mas ainda 15% abaixo dos três primeiros meses de 2008. Os principais países de maior participação nas trocas internacionais, que têm dados fechados até março último, estão em situação similar: o Japão registra crescimento de 22,6% frente a igual período de 2009 e queda de 13% diante dos mesmos meses de 2008; a França apura resultados de, respectivamente, 15,2% e -18%.
A China só divulgou informações até dezembro. Assim, no último trimestre do ano passado, o país oriental acumulou alta de 22,3% diante do quarto trimestre de 2008 e crescimento da ordem de 11% frente aos últimos três meses de 2007. Evidentemente, os parâmetros de avaliação para a economia chinesa têm de ser diferenciados, dado o ritmo de expansão do país, que ainda possui larga capacidade de explorar o enorme volume da força de trabalho como fator diferencial de expansão da produção e, conseqüentemente, de negócios internacionais.
Porém, apesar de meio esquecido pela mídia nos últimos dias, a grande incerteza sobre o futuro vem da Europa. O estouro das contas públicas gregas (seguidas da Espanha e Portugal) colocaram em cheque muito mais do que a capacidade do país em gerir suas finanças.
O problema é que para evitar um desastre maior em setembro de 2008, os principais bancos centrais do Velho Mundo seguiram o exemplo dos EUA e bancaram os furos do sistema financeiro através de trilionárias emissões de títulos. Pelo outro lado, os juros caíam para evitar colapso do consumo.
Em outras palavras, o que estava sendo feito era colocar dinheiro bom em negócios provavelmente ruins, sendo que para isso foi necessário pedir valores emprestados, pagando menos do que antes.
A falta de melhores negócios e a grande credibilidade da União Européia fizeram com que tal iniciativa, aparentemente maluca, desse certo naquela época.
Entretanto, o grande susto de cataclismo financeiro já passou. Quem tem dinheiro, aos poucos, vai perdendo o medo e busca fontes mais rentáveis de investimento. E com o fiasco grego, é claro que a desconfiança sobre os títulos em Euro aumentaram. E isso é risco para a atividade econômica mundial.
Nos próximos meses será interessante observar a evolução das importações globais, pois elas expressarão os primeiros efeitos do que poderíamos chamar de segundo round da crise global.
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