sexta-feira, 21 de maio de 2010

Brasil paga pela Crise Grega

Nessa última quinta-feira, o mercado financeiro global viveu mais um daqueles dias perturbadores. As principais bolsas de valores seguiram em queda, enquanto a moeda européia continuava a perder valor frente ao dólar.

Como se sabe, a raiz dessa nova crise está no escancaramento do caos fiscal na Grécia e, em menor gravidade, em Portugal e Espanha.

Mas essa questão ganha mais importância do que o peso econômico dos três citados países na medida em que ela externa uma situação de inconfiabilidade que pode se generalizar pelo planeta.
 
Relembrando, a crise iniciada em setembro de 2008 era de cunho financeiro. Mas para evitar um colapso econômico, os bancos centrais injetaram dinheiro no mercado, bem acima das suas possibilidades normais.

Claro, tal situação aumentou o endividamento das principais moedas do mundo (dentre as quais o euro), ao mesmo tempo em que os juros baixavam para incentivar o consumo.

Em outras palavras a situação é mais ou menos como emprestar dinheiro a juros menores para quem está com maiores chances de quebrar. É um contra-senso, mas isso foi feito para tentar livrar os principais países do mundo de uma grande depressão.
 
E com tal risco em alta, bastou o governo grego admitir estar na pindaíba para que a desconfiança geral aumentasse. Daí começou a corrida dos especuladores para retirar seus investimentos em ativos de menor garantia. No caso, o euro começou a derreter diante do dólar (não tão fortalecido assim), enquanto as aplicações em bolsas de valores também enveredavam para seguidos pregões de baixa.

Mas o que tudo isso tem a ver com o Brasil?
 
Para começar, nosso país não é mais apenas um ilustre desconhecido nas relações internacionais. A posição de grande produtor de commodities e minerais, além da competitividade em alguns segmentos de indústrias, colocam o Brasil dentre as principais economias do mundo, com um mercado consumidor de tamanho bastante respeitável.

Mas acima de tudo, o que chama a atenção para este vasto território da América do Sul é o fato de nosso Banco Central premiar os investidores estrangeiros com as maiores taxas de juros do mundo há mais de 15 anos (com algumas semanas de excessão).

O problema é que ninguém com a cabeça no lugar esquece daquela velha regrinha de mercado: quando a esmola é demais, o santo desconfia. E assim, nos momentos de turbulência internacional, é natural que o mercado financeiro do Brasil acabe sendo mais prejudicado por instabilidades do que os países desenvolvidos, mesmo que as encrencas ocorram por lá.
 
Veja a próxima ilustração. Quando estourou a crise financeira global, em setembro de 2008, o Ibovespa simplesmente despencou, fazendo com que as ações brasileiras tivessem seu preço médio reduzido a mais da metade no período agudo da confusão. Mas a desvalorização das empresas também ocorreu nos principais mercados do mundo, se bem que em patamares mais moderados.
 
Porém, nesse mesmo período, que vai até o final do primeiro trimestre de 2009, às principais moedas internacionais chegaram a se valorizar entre 30% (euro) e 70% (Iene) diante do real.

Fica, então, a indagação: se o Brasil estava fora do eixo mais intenso da crise internacional, por que a moeda do país se desvalorizou tanto?

É verdade que o real estava e está sobrevalorizado. Mas a situação não teve relação alguma com a eventual tomada de consciência do verdadeiro valor da moeda do país. A questão foi muito mais simples: os investidores externos resgataram suas aplicações financeiras e investimentos na bolsa brasileira, seja para cobrir prejuízos em outras praças, ou para fugir de situações de maior risco, expressas por juros várias vezes mais elevados do que a média mundial.


Com o arrefecimento dos ânimos a partir do segundo semestre de 2009, a confiança no Brasil foi gradativamente sendo restabelecida, com a bolsa de valores recuperando o nível anterior ao estouro da bolha especulativa e o real ( via entrada de aplicações estrangeiras) voltando a patamares de supervalorização, para a tristeza dos exportadores e alegria daqueles mais chegados a produtos estrangeiros.

Daí vem a Grécia e reaviva a fogueira da crise internacional. A motivação financeira acabou cedendo espaço para os buracos das contas públicas dos países europeus e, indiretamente, os EUA, que continua a conviver com déficits públicos gigantescos.

E por conta disso, a ilustração a seguir mostra a queda do índice Bovespa sendo acompanhada pela desvalorização do Euro, mas de forma mais branda.
 
O problema é que a situação detonada na Grécia não tem aparentemente nenhuma culpa de fazer com que as demais moedas importantes do mundo ganhassem valor diante do real.

O iene, o iuan e o dólar (escondido, na próxima ilustração, atrás da linha do iuan, pelo fato de as duas moedas estarem inquestionavelmente atreladas) acabaram se valorizando por conta de situação análoga à verificada em 2008: em momentos de turbulência, juros mais altos voltam a representar maiores riscos.

Uma outra forma de ver a questão: o Brasil remunera mais generosamente os investidores estrangeiros, porque está precisando mais de dinheiro do que os outros países. E quem se encontra em tal situação, evidentemente tem chances maiores de, diríamos, falhar com o pagamento. E a resposta dos investidores diante desse quadro é o notório "pernas para que te quero".


Afora isso tem um outro aspecto interessante a se identificar na atual conjuntura de crise.
Acompanhando a próxima ilustração se observa que junto com Brasil, a China vem registrando as quedas mais intensas na bolsa de valores. As praças de Londres, Tóquio e Nasdaq também recuaram, mas de forma menos intensa.

Interessante: o Brasil quase não tinha títulos podres (sub-prime) em setembro de 2008 e acabou penando com a crise especulativa. Agora, não há muitas ligações expressivas entre economia de nosso país e a grega. Mesmo assim, as empresas brasileiras perderam mais valor do que as de países enterrados até o pescoço nas causas da instabilidade internacional.
Moral da história: mesmo não mostrando aparentes sintomas de problemas sérios, a confiabilidade da economia brasileira é ainda menor do que a de nações em situação mais próxima às raízes da crise internacional.

Como isso se explica? EUA, Grã-Bretanha e Japão têm vários laboratórios, centros de pesquisa e universidades que garantem o surgimento de produtos inovadores no mercado, sendo essa a maior fonte impulsora do desenvolvimento. Além disso, predominantemente, esses países têm a tradição de disciplina fiscal (lembrando que o buraco orçamentário norte-americano foi causado pelo governo Bush, exceção à regra das últimas gestões do executivo do citado país).

De acordo com o exposto não fica difícil receitar o caminho para que o Brasil deixe de pagar o pato pelas travessuras gregas, ou de qualquer outro país: a chave da questão está na sustentabilidade econômica.

Isso significa resolver o nó górdio do déficit público nacional, para poder baixar juros de forma relevante; e investir prioritariamente o dinheiro público em frentes geradoras de riqueza, como laboratórios, escolas, infra-estrutura e outras alternativas do gênero.

 
Curtas

1) preste atenção na mutação genética em bactérias a partir da criação de células com genoma sintético. De uma forma simplificada, os cientistas norte-americanos que fizeram isso deram um passo fundamental para criar e moldar a vida em laboratório. Além de mandar dogmas religiosos fundamentalistas para as cucuias, essa revolução do conhecimento abre enorme leque de possibilidades para o futuro da humanidade. Cura de doenças, despoluição e outras coisas legais podem ser facilitadas. O problema é que tal conhecimento pode acabar causando alguns acidentes...

2) até o final de 2010 a google estará lançando a Internet por TV. As redes de telecomunicações que se cuidem, pois essa inovação pode vir a transformar completamente as regras do mercado.


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