quarta-feira, 12 de maio de 2010

A Inflação da Bobeira

Assuntos não faltam para brindar o retorno desse blog à ativa.

Na difícil escolha do tema central para o recomeço das atividades do Relatório Econômico, decidimos optar pelo enfrentamento do maior trauma da economia brasileira: a inflação.

Depois do sucesso do Plano Real, tivemos a vantagem de não precisar conviver diariamente com altas exacerbadas de preços.

Pelo lado negativo, somos obrigados a engolir a política monetária mais medrosa do mundo.

Há alguns dias, o COPOM decidiu aumentar a SELIC em 0,75 ponto percentual por causa da aceleração inflacionária verificada no primeiro quadrimeste de 2010. De fato, quando os preços aumentam acima de 0,4% a situação merece atenção especial. E entre em janeiro e abril deste ano, o IPCA, invariavelmente ficou bem acima desse patamar.

Na ilustração a seguir, os principais componentes que compõe o custo de vida dos brasileiros estão destacados, com suas respectivas inflações médias mensais do primeiro quadrimestre.


Os itens em azul referem-se a grupos de produtos onde não há pressões de preços, ou seja, não preocupam. Já os amarelos estão no limite do que poderia ser considerado salutar para a economia brasileira, ou seja, inflação anual abaixo dos 5%.

Finalmente, em vermelho identificamos as pedras no sapato que perturbaram as autoridades monetárias a ponto deles subirem os juros em temporada pré-eleitoral.

Mas vamos analisar esses problemas um pouco mais detalhadamente.

A inflação dos alimentos realmente foi alta. Entre janeiro e abril a variação de preços no setor só não esteve acima de 1% e em fevereiro (0,96%).

Entretanto, deve ser considerado que fenômenos climáticos fizeram com que as chuvas, especialmente no sul e sudeste, fossem recordes, provocando inundações, desabamentos e perdas de safra de hortifrutigranjeiros e cereais. No momento em que a fúria do clima se acalmar, os preços devem recuar novamente, como sempre aconteceu.

As despesas com educação, por sua vez, sempre concentram aumentos em fevereiro, com a temporada de matrículas escolares e compra de material didático. Nos meses seguintes os preços ficam estáveis, ou até caem. Em fevereiro último, a alta foi de 4,53% diante de 4,77% de igual período no ano passado. Ora, se em 2009 o custo do estudo não justificou alta de juros, por que isso foi motivo para mexer na Selic nesse ano?

Finalmente, no âmbito das despesas pessoais, a maior culpa foi do futebol. Afinal, com a repatriação de tantos craques, os campeonatos estaduais, a Copa do Brasil e a Libertadores da América ficaram mais interessantes e caras. O preço dos ingressos aumentou 20,7% no primeiro quadrimestre do ano e as mensalidades sociais dos clubes subiram 6,18%. Afora isso, os despachantes cravaram a faca nos clientes com alta de 6,2%; os cartórios (deveriam ser extintos) com 4,97%; e os empregados domésticos com aumento de 5,37%. Nesse último caso, a alta está associada à melhoria do nível de emprego em geral, o que é natural e desejável.
 
Em resumo, os juros básicos subiram por conta da inflação; e a inflação aumentou por causa das chuvas, das matrículas, do futebol, dos despachantes e cartórios.



Uma proposta: quando as chuvas diminuírem, o custo das matrículas estará diluído nos meses seguintes. Daí, é só expulsar os craques do Brasil, extinguir os cartórios e baixar os juros de novo. Será que essa cola?

Uma suspeita pessoal: alguém importante do governo federal não quer a ministra Dilma Rousseff como presidente da república.

Curtas

1) Gastança muito da demagógica esse negócio de o governo ressuscitar o fantasma da Telebrás para “popularizar a banda larga”. Em primeiro lugar, o tão falado Decreto para entregar R$ 3,2 bi à estatal, aparentemente, é ilegal, pois não está incluído no orçamento da União. Ademais, esse dinheiro que poderia custear cerca de 350 mil casas populares vai provavelmente acabar como qualquer elefante branco: grande parte gasto em consultorias de qualidade duvidosa, salários de executivo e mordomias, enquanto a eventual infra-estrutura construída vai ser entregue a preço de banana a alguma Tele que realmente saiba operar com banda larga.

2) A crise fiscal grega mostrou importante fragilidade da União Européia. Portugal e Espanha também confessaram fortes desequilíbrios e devem ser beneficiados pelo pacote de socorro do FMI e Banco Central Europeu. Muito mais do que barbeiragem e demagogia de políticos gastadores, a situação põe a perigo a própria estabilidade do EURO. Em 2008 os países mais ricos do continente garantiram a sustentabilidade da moeda às custas de endividamentos multibilionários e juros em baixa. Nesse quadro financeiro, qualquer problema de confiabilidade pode ser catastrófico.

3 comentários:

  1. Eduardo!
    Nas curtas tu diz que R$ 3,2 bi poderiam custear 350 mil casas popular. Cada casa custaria R$ 9.100? Esta certo mesmo essa conta?

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  2. Sim, na verdade o preço declarado ficaria em torno de R$ 8.500,00.

    Seriam moradias de 36m2 em kit metálico. Peguei a informação no link a seguir: http://www.ecivilnet.com/artigos/moradia_popular_metalica.htm

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  3. muito bom trabalho meus cumprimentos.

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