segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Olhando Para o Futuro do Mundo de Amanhã

Está equivocado que fica contemplando sinais de bolsas de valores, taxas de cambio, índices de confiança e outros indicadores do gênero e os encara como sinalizadores do termômetro da economia real. Pior é quem projeta a partir daí o que deve acontecer no futuro.


De fato, as bolsas (especialmente a Bovespa) estão ainda no clima de exacerbação especulativa, iniciado antes da crise financeira mundial. Cedo ou tarde, o valor das ações deve despencar novamente.

Quanto à valorização do real, fica cada vez mais claro que o fenômeno está ligado à entrada de capital externo para especulação no mercado financeiro brasileiro. O efeito colateral é grave para o setor produtivo: fica caro exportar e demasiadamente barato importar... Algum tipo de controle desses recursos ainda só não foi feito em função de o Tesouro Nacional estar escravizado por tais capitais para girar as contas nacionais. Mas isso é outra conversa...


O que importa é a definição de que apenas fatos (dados de emprego, produção, etc.) é que tem o real poder de proporcionar a avaliação do que ocorre no ambiente econômico.

O resto é análise de surto, que pode estar correta ou errada, assim como um número marcado num volante de mega-sena.

Entretanto, pensar no futuro é diferente. Os dados de ações e câmbio também são de pouca valia para isso. O importante é identificar os principais aspectos que estão a transformar a realidade e extrapolá-los para ver onde vai dar.

E nesse ponto, qual será a saída para a crise mundial? Diga-se de passagem, os números financeiros serão apenas a conseqüência de uma dinâmica dando certo ou errado; ou então a manifestação de movimentos especulativos.

Pois bem, historicamente, a economia mundial se expandiu e globalizou por meio do apelo ao consumo de mercadorias. E será a tentação pelos novos produtos que farão com que a humanidade supere os atuais entraves e continue sua rota de aumento de riqueza. As dívidas que os governos fizeram para conter a crise global só se tornarão pagáveis na medida em que suas respectivas sociedades gerarem produtos que alavanquem direta ou indiretamente a arrecadação de impostos (sobre a renda e/ou produtos).

Então, o país, a empresa, ou a pessoa que mais inovar e agradar com novos produtos é que terá a prerrogativa de liderar a retomada do comércio global.

Mas existem alguns focos genéricos, que podem vir a se tornar pré-requisitos nas relações comerciais e inter-pessoais do futuro em uma escala de tempo mais breve do que imaginávamos há dois ou três anos.


Nesse âmbito, vale reproduzir o resultado de pesquisa feita pela consultoria Gartner, especializada em tecnologia. Segundo estudo feito por essa empresa, até o final do ano, nada menos do que 20% das casas do mundo estarão conectadas à internet, por banda larga. Está se falando em 422 milhões de casas (10% a mais do que no ano passado). Ainda, segundo a Gartner, em 2013, esse número deve cruzar a barreira dos 580 milhões.

Mas o número para 2009 indica que não menos do que 1,3 bilhão de pessoas estão conectadas à rede mundial de computadores. Seguramente, esse público é composto pelas pessoas de maior poder de consumo e geração de renda. E a tendência é a popularização veloz desse (ainda) novo meio de comunicação.


Sim, mas o que isso significa? Ora, hoje se compra, vende, fala, trabalha e até namora pela internet. Os escritórios virtuais estão em franco desenvolvimento; e cada vez mais o processo produtivo intelectual deixa de ser feito em escritórios de empresas. Isso é burrice; custa caro; e além de tudo vai contra as necessidades de se racionalizar o espaço urbano por motivos ambientais e de combater o congestionamento das principais cidades do mundo.


Em resumo, se mesmo com a crise o mercado de acesso à internet não parou de crescer a taxas anuais superiores a 10%, não será nos próximos anos que esse movimento terá arrefecimento. E os efeitos práticos?


Bem, o comércio virtual continuará crescendo; isso é certo!

Outro aspecto importante está na mudança das relações sociais, o que já está ocorrendo com o amplo crescimento de comunidades virtuais. Só que esse virtual toma formas cada vez mais realistas sem, no entanto, serem tangíveis.

Por exemplo, desenvolver trabalhos em grupo através de conferencias já está quase tão eficaz como reuniões reais de equipes, com a vantagem de que cada um dos participantes fica bem mais à vontade (sem ter que encarar eventuais maus odores... mas também, por outro lado, pode acabar deixando de ter alguma história mais picante...).


Essa também é a solução para deixar de enfrentar 6 horas diárias de trânsito em metrópoles lotadas como São Paulo e outras do gênero. Poupa-se tempo, economiza-se combustível, além de servir às causas ambientais, pela redução de emissão de CO2.



Tudo isso está se mostrando economicamente mais viável do que a velha forma de ser. Sair de casa, será cada vez mais uma atividade ligada ao lazer. E nesse contexto, não faltam serviços e bens a serem lançados no mercado, dentro dessa nova lógica de relações humanas, através de uma tela.

Tal cenário, provavelmente colocará em cheque algumas indústrias (no conceito amplo) que simbolizaram a humanidade no século XX. Os carros, por racionalidade e pressões ambientais (antes de ser uma questão de consciência humana, isso envolve importantes aspectos de geopolítica), deverão mudar de perfil. Serão majoritariamente menores e movidos a combustíveis alternativos em relação aos atualmente dominantes.

O sistema de telefonia também ficará ameaçado. Afinal, os protocolos de voz sobre IP estão sendo rapidamente popularizados em sua forma gratuita (comunidades como a que fica ao redor do skype, por exemplo), especialmente com a abertura de sinal wi-fi em algumas cidades importantes (como Porto Alegre). Isso torna a internet gratuita para qualquer uso, o que pode vir a ser uma tendência de rápida disseminação... Demanda da população ao poder público.


Resumindo, essa visão de futuro não é nada mais do que a extrapolação curta da realidade atual. E nesse contexto, a crise não deve durar muitos anos.

Porém, não se pode fugir da idéia de que os grupos empresariais arcaicos, diante dessa nova realidade, continuarão mais tempo em crise... até morrerem ou se reinventarem.

No futuro retomaremos esse assunto.



Curtas

1) Hoje o dólar chegou a R$ 1,794 e a Bovespa bateu nos 61.316 mil pontos. As duas cotações são incompatíveis com a realidade estrutural brasileira. Cedo ou tarde chegarão os tempos de ressaca. Recomenda-se prudência aos investidores em ações e às empresas que apostam na valorização do Real. Sadia, Aracruz e outras pagaram caro por esse equívoco!


2) Dois acionistas de peso do Carrefour estão pressionando para que a rede de supermercados se desfaçam de suas posições nos países emergentes (inclui o Brasil). Tais vendas seriam uma forma rápida de realização de lucros, beneficiando os quotistas. Seguramente, interessados não faltarão para a aquisição da rede de capital francês, que juntamente com a Wall Mart e Pão de Açúcar dividem o filé mignon do varejo de alimentos e eletroeletrônico brasileiro.


3) Hoje uma das principais manchetes dos grandes portais foi: “Inadimplência das empresas, segundo Serasa, cai 12,7% em agosto frente a julho”. E fora das letras garrafais, a verdade menos animadora: a inadimplência, segundo a mesma pesquisa, subiu 19,8% se comparada com agosto do ano passado. Moral da história: quem sai repetindo manchetes por aí, corre o risco de passar vergonha!

Nenhum comentário:

Postar um comentário