terça-feira, 8 de setembro de 2009

A Hecatombe do Emprego Industrial

Hoje o IBGE divulgou a alta do emprego industrial brasileiro. De acordo com o Instituto, em julho foi registrada elevação de 0,4% diante do mês anterior.

Na verdade, o dado está errado. Calculando a variável através dos índices fornecidos pelo próprio IBGE, o crescimento ficou em 0,04% (ou apenas 10% do percentual declarado).

Mas vamos perdoar tal equívoco, certamente não intencional.

Mesmo assim, o resultado em questão chega a ser animador, encerrando uma série de 9 meses consecutivos de redução do quadro funcional das fábricas. Entretanto, o desafio de realmente recuperar a empregabilidade do setor fabril é bastante complexo.

Por exemplo, se essa alta fosse mantida constante no futuro (elevação de 0,04% ao mês), só em 2026 é que o quadro funcional das indústrias estaria reposto de acordo com os padrões de setembro de 2008 (logo antes do estouro da crise global) o que, certamente, é algo absurdo.
Tentando encontrar um padrão de recuperação razoável, diríamos 3 anos, o nível de emprego deveria evoluir a uma razão média de 0,227% ao mês, ou 2,76% ao ano. Tal patamar só foi obtido na história recente da economia brasileira, entre 2007 e 2008, sob o contexto da inconsistência financeira mundial de excesso de liquidez (1 dólar chegava a alavancar mais de US$ 60 pela dinâmica da intermediação financeira), que acabou detonando a crise da sub-prime.

Em resumo, mesmo com a pequena expansão registrada pelo IBGE, a indústria do país recuou, em termos de geração de empregos, ao patamar existente em junho de 2004 (ou dezembro de 2001, sob a influência da crise da época).

Diante dos fatos, o país tem duas alternativas principais para projetar uma retomada da oferta de postos de trabalho na indústria:

1) Esperar o contexto financeiro internacional voltar a ficar favorável, o que é pouquíssimo provável, especialmente dentro dos padrões predominantes até o ano passado. Afinal, os bancos centrais do mundo tomaram algum juízo e tentarão não permitir novas aventuras inconseqüentes (evidentemente, os mais espertos tentarão driblar as regulamentações mais rígidas – e alguns conseguirão);

2) Inserir o Brasil em uma real política de desenvolvimento industrial, voltado à alavancagem competitiva dos segmentos com melhores condições de sucesso no mercado internacional e, conseqüentemente, interno. Isso envolve a quebra de alguns tabus nacionais: uma política cambial menos ingênua, que considere a possibilidade de isolar a variação do Real de movimentos especulativos vinculados ao endividamento público e bolsa de valores; a desoneração fiscal e financeira dos segmentos empresariais com maior potencial competitivo (interessante ler Michael Porter: ele prova que é mais vantajoso apoiar os líderes produtivos do que apenas consolar os coitadinhos); e finalmente, investimentos realmente relevantes em educação e desenvolvimento tecnológico nas áreas de conhecimento selecionadas.


Nesse caso, nada de programas tapa-furos. Estou falando de gastar mesmo para valer: cifras da casa dos bilhões de dólares, permitindo experiências fracassadas. O primeiro sucesso real compensará todo o investimento. Pelo menos é assim que pensam gestores públicos de países como Coréia do Sul, Japão e outros de sucesso.


Curtas

1) Alerta apropriado do amigo Antonio Jervis Mendonça sobre as tratativas do presidente venezuelano, Hugo Chaves, com o colega iraniano Mahmoud Ahmadinejad, a respeito do desenvolvimento conjunto de artefatos nucleares. Os dois países trabalhariam em frentes tecnológicas diferentes para não serem flagrados pelas inspeções da ONU. Mas depois seria apenas juntar as partes e CABUM. Não me metendo nas questões fundamentalistas do Oriente Médio, caso essa iniciativa vingue, estará, lamentavelmente, sendo dada a largada para a corrida nuclear na América do Sul, o que não excluirá o Brasil. Serão centenas de bilhões de dólares que serão deslocados da saúde, educação e outros investimentos necessários, para financiar mísseis, sistemas de segurança e outras porcarias que até agora nunca precisamos. Esperemos que tudo não passe de mais uma fanfarronice de Chaves, sem maiores conseqüências...



2) De acordo com o World Economic Fórum, o Brasil conquistou 8 posições em termos de competitividade global, passando a ocupar a 56ª colocação dentre 133 países. O avanço de 2009 foi especialmente graças à melhoria de posicionamento do setor financeiro (que no Brasil não teve tantos problemas como nos países desenvolvidos). Entretanto, antes de festejar o avanço, cabe lembrar que ocupamos algumas posições vergonhosas nesse ranking: 109º em termos de estabilidade econômica; 99º em eficiência de mercado; e 93º no que se refere à qualidade de nossas instituições. Eventualmente, aprofundaremos esse tema.



3) Até as 13:40 h de hoje, o IBOVESPA estava avançando para patamares acima de 57.500 pontos. Aposto que um tombo do indicador está em vias de acontecer...



4) A UNCTAD (braço da ONU para o comércio e desenvolvimento) está defendendo a criação de uma moeda global, como forma de aumentar a credibilidade do sistema financeiro mundial. Uma idéia bonita, apropriada e bem-vinda... mas demasiadamente utópica. Afinal, qual o governo de país, por mais bagunçado que seja, admitiria abrir mão do poder de ter sua própria política monetária. Porto Rico fez isso em favor do dólar e hoje é praticamente um estado norte-americano. Na verdade, tal idéia vai ao encontro dos que defendem a idéia de um governo planetário forte, baseado na ONU. Talvez quando uma civilização intergaláctica tentar invadir a terra, isso pode virar um possibilidade. E quem será o presidente? Will Robinson, de Perdidos no Espaço ou o Dr. Spock, de Jornada nas Estrelas? Opa, esse último é estrangeiro...

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