terça-feira, 1 de setembro de 2009

A Indisfarçável Recessão Industrial

Ontem o IBGE veio com uma boa notícia. Segundo o Instituto, a produção industrial do país havia chegado, em julho, ao seu sétimo mês de crescimento consecutivo.

A verdade é que tal informação não é correta. Em primeiro lugar, mesmo calculando esse dado mês a mês, julho seria apenas o terceiro resultado seguido de expansão. Falar em crescimento tão continuado pode ser resultado de cálculos meio mirabolantes, chegando às beiras do que chamaríamos de forçar a barra.

A forma mais precisa de se avaliar o desempenho da indústria é contrapor o último resultado com o que aconteceu no mesmo período do ano anterior. Isso elimina a maior parte do que se chama de efeitos sazonais, podendo haver apenas leves desvios por conta da quantidade de dias trabalhados devido à concentração de feriados e finais de semana.

Mas nenhuma dessas variáveis é suficiente para tirar o impacto da retração da produção industrial no Brasil de 9,9% na comparação entre julho último e igual período de 2008. E para contrapor ainda mais o discurso do IBGE, não temos como deixar de afirmar que esse foi o nono mês consecutivo em que as fábricas do país apuraram queda do nível de atividade.

O aspecto positivo da situação é que o dado de julho foi o menos negativo dos últimos quatro meses. Isso pode, eventualmente, estar apontando para o fundo do poço da recessão industrial brasileiro. Afinal, quando os percentuais de queda começam a diminuir, a tendência é que logo inicie o processo de recuperação (tipo, não tem mais como cair, então só pode subir).

A
nalisando a questão sob o ponto de vista dos gêneros fabris, a realidade se mostra ainda mais preocupante. Dos 24 gêneros industriais pesquisados pelo IBGE, apenas quatro apresentaram expansão na comparação com julho do ano passado, com destaque para os produtos farmacêuticos e de limpeza. Certamente, algumas fábricas do setor estão agradecendo seus bons resultados à grande vedete do momento: o vírus H1N1.


Pelo lado mais negativo, é interessante reparar na ilustração acima a queda de 21,5% da produção de veículos. Esse dado é, em parte, confirmado pela própria ANFAVEA, que reconhece uma fabricação de 11,5% veículos a menos no período em foco, sendo que as vendas no mercado interno caíram 5,1% e as exportações ficaram pela metade do que foi registrado em julho de 2008.

No que se refere ao mercado interno de automóveis, além de uma natural desaceleração do consumo, pode estar ocorrendo um processo de esgotamento do ímpeto de renovação da frota nacional. O fim da desoneração tributária, prevista para ocorrer gradualmente até o final do ano, pode ser desastrosa nessa dinâmica.

De resto, fica evidente que praticamente todo o setor metal-mecânico está enfrentando fortes dificuldades de superar a crise de raízes globais (mas com desdobramentos bem brasileiros!).

Esperamos (de esperança e não de expectativa) ter notícias mais agradáveis a partir dos resultados da produção industrial de agosto; mas não taparemos o sol com a peneira: a indústria brasileira está passando por um período de inequívoca recessão. E a intensidade do fenômeno é bem poderosa!







Curtas

O viés estatizante que o governo adotou para tratar do petróleo do pré-sal, caso se consolidar, poderá acabar sendo um forte recuo do sonho brasileiro de se transformar em grande produtor. A prática já ensinou por diversas vezes que o dedo do Estado no processo produtivo acaba em bagunça e frustração de expectativas...

O desemprego na Zona do Euro bateu em 9,5% no mês de julho. É o pior percentual do indicador desde 1999. Mas isso não é tão mais preocupante diante do que já aconteceu. Pode-se dizer que até era esperado. Afinal, os europeus tem programas fortes de assistência aos desempregados. Além do mais, no Hemisfério Norte, julho é tempo de férias de verão. O foco são as praias do mediterrâneo, Bali, ou o nordeste brasileiro.



Cálculos preliminares do Instituto de Gestão do Fornecimento (EUA) indicam que a atividade industrial norte-americana registrou leve crescimento em agosto (52,9 pontos – acima de 50 é crescimento). Esse é o primeiro indicador positivo em 19 meses. Mais um sinal de que o setor produtivo da América do Norte chegou ao fundo do poço e lentamente começa um processo – ainda não consistente – de recuperação.


A proposta do orçamento federal para 2010, prevê R$23,4 bilhões para o PAC, o que corresponde a um aumento de 11% frente ao orçado para esse ano. Entretanto, tanta generosidade esbarra numa triste realidade: os executores dos investimentos públicos têm pouco apetite (ou agilidade) por gastar em obras. No ano passado, apenas 18,7% dos recursos para investimentos (inclui outros, além do próprio PAC) foram efetivamente utilizados. Até o momento, em 2009, a execução desse item do orçamento está em minguados 8,55%. Isso é parecido como algo como dar uma Ferrari para quem só sabe andar a pé...



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