terça-feira, 15 de setembro de 2009

Entendendo a Alta do Consumo Brasileiro

Praticamente fechando a série dos indicadores de atividade econômica de julho, o IBGE, hoje pela manhã, divulgou alta de 5,9% do volume de vendas do comércio varejista em relação ao mesmo mês de 2008. A versão ampliada do indicador (inclui automóveis e material de construção) acabou sendo um tanto quanto decepcionante, fechando com expansão de apenas 0,87%.


A próxima ilustração acompanha a evolução no varejo brasileiro em doze meses desde dezembro de 2005. E nesse espaço de tempo podemos claramente observar as vendas sempre estiveram mantendo um ritmo de expansão superior a 5% ao ano, sendo que o indicador disparou para os dois dígitos a partir do final de 2007, até o fechamento do ano passado.

E mesmo a forte desaceleração da economia em 2009 não impediu que a alta fosse mantida em patamares superiores a 5%.

Em princípio, tal contexto chega a ser um contra-senso diante de outros indicadores de produção negativos, especialmente no âmbito da indústria e exportações.

Observe o leitor que especialmente no período de maior crescimento do comércio, as remunerações avançavam em ritmo sensivelmente inferior. Ou seja, as vendas estavam aumentando em um ritmo mais intenso do que o acréscimo da renda de trabalhadores, autônomos e profissionais liberais. É o tradicional " gastar mais do que tem”, já que não faz parte da tradição brasileira o hábito da poupança.

O fenômeno se explica pela rápida expansão do crédito junto à classe média e baixa do Brasil, que nesse meio tempo ampliou seu acesso a cartões de crédito e financiamento de longo prazo para a aquisição de veículos e outros bens duráveis.

É preocupante o fato de que, em princípio, essa novidade da economia nacional continue a se expandir a taxas anuais superiores a 20%.


A próxima ilustração deixa a questão ainda mais clara: desde meados de 2004 até o tempo atual o volume de vendas no varejo aumentou entre 33% e 37% ( versão ampliada do indicador). Ao mesmo tempo, a massa real de remuneração cresceu cerca de 25%. Esse desequilíbrio entre renda e consumo foi preenchido pela expansão de 163% do crédito aos lojistas, ou diretamente ao consumidor via instituições financeiras.
Inicialmente, tal percentual poderia não ser tão significativo, partindo de uma base pequena. Entretanto, no período de análise, tais modalidades de empréstimo simplesmente pularam de 9,7% para 19,2% do PIB brasileiro, acumulando em julho último o montante de R$ 560 bilhões (dados trabalhados a partir de informações do Banco Central).



Ou seja, não dá para dizer que estamos falando apenas de alguns trocados. E nesse contexto, a preocupação fica para a continuidade da expansão anualizada do crédito em patamares acima de 20% anualizados.

Lembrem que tais empréstimos têm taxas de juros predominantemente muito caras (de 4% a 12% ao mês, conforme a modalidade). Isso significa que o custo financeiro e amortização de dívidas está cada vez representativo na receita orçamentária das famílias brasileiras.

A questão, então, é: até que ponto tal endividamento pode continuar a aumentar? Bem, isso depende das taxas de juros e ampliação do prazo de crédito. Mas, mesmo assim, existe um teto a ser descoberto.

O risco é que tal dosagem seja exageradamente extrapolada. Daí, corremos o sério perigo de uma crise da sub-prime brasileira (créditos podres estourando e ameaçando o sistema financeiro).

No ano passado, pouco antes de setembro, quase ninguém acreditava na insolvência da classe média norte-americana, por conta de hipotecas residenciais. E deu no que deu! Aqui no Brasil, a enxurrada de carros novos, eletrodomésticos e outros bens de consumo (via cartão de crédito) podem estar construindo problema análogo.

Dica: quem trabalha com crédito poderia começar a ser mais criterioso. Isso tanto vale para o empresário, como para o consumidor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário