terça-feira, 22 de setembro de 2009

PNAD 2008 – Parte 2: O Brasil Rural

Nos final dos anos 70 e início dos 80 a propaganda ufanista do país dava destaque para a transição do Brasil, que deixava de ser predominantemente rural para se tornar uma Nação de maioria urbana, como acontecia nos países desenvolvidos.


Por conta disso - que envolveu um plano de desenvolvimento estatal, dirigido, principalmente, para as grandes metrópoles - várias das principais cidades brasileiras incharam bem além de sua capacidade de absorção populacional.

O resultado: um PIB maior acabou sendo acompanhado por efeitos colaterais que hoje representam os principais problemas de tais municípios: bolsões de miséria; insustentabilidade ambiental; criminalidade; trânsito; dentre outros.

Ao final das contas, chegamos na virada do século com uma população rural limitada a 16,1% do total nacional. Esse percentual não foi apenas uma conseqüência do êxodo da população do campo para as maiores cidades.

No contexto brasileiro, aspectos relacionados principalmente à conveniência de políticas partidárias, acabaram inflacionando o número de municípios no país. Em 1980 eram 3.974, que pularam para 5.564 em 2006.

E nesse processo de “urbanização legislativa”, é provável que várias áreas pouco habitadas tenham passado a ser consideradas núcleos urbanos, o que, efetivamente, após algum tempo acabou mesmi acontecendo, pela necessidade de se identificar alguma sede municipal, com direito a prefeitura, câmara de vereadores, secretarias e outras repartições geradoras de emprego público.

Mas apesar de todas essas considerações, os últimos anos estão sendo marcados por uma reação da participação da população rural no total brasileiro. Dos 16,1% registrados em 2001, passou-se para 16,25% no ano passado.

Esse é um avanço reconhecidamente tênue, mas significativo na medida em que revela o estancamento da onda de urbanização.

A seguir apresentamos a pirâmide populacional da zona rural brasileira de 2001 e 2008 (clique na imagem para ampliá-la). Nos sete anos de distancia, pouco mudou, a não ser pela perceptível redução da base etária de zero a quatro anos de idade, a qual encolheu 11,3%. Isso revela intensivo programa de controle da natalidade. Nas outras faixas etárias que compreendem crianças e jovens a expansão permaneceu intensa.


Por conta disso, a população no campo em idade de trabalhar, em 2008, é equivalente a 53% do total. Esse percentual traduz uma elevada relação de dependência para a sustentação dos teoricamente inativos. No caso da totalidade do Brasil, esse percentual ficou em 60% no ano passado (menor grau de dependência).
Uma outra questão curiosa a respeito da população urbana brasileira refere-se a concentrações populacionais de acordo com a cor da pele. Certo, é besteira pensar que uma mera questão de pigmentação justifique algum tipo de diferença étnica, além de uma questão estética.



Mas é inegável que culturalmente isso acabou tendo algum tipo de relevância, muito provavelmente em função de hábitos segregacionistas das próprias etnias.

Isso deve justificar, por exemplo, o porquê de os povos de pele amarela (origem oriental) terem menor concentração populacional na zona rural - apesar do avanço registrado em 2007 e posterior recuo no ano passado ( o dado em questão pode estar apontando para uma distorção da pesquisa PNAD de 2007, ou alguma iniciativa comunitária rural que não deu muito certo).


Por outro lado, surpreende o fato de a população indígena, até o ano passado, ter apenas entre 20% e 25% de seu contingente ligado diretamente ao ambiente rural. Em tese, isso pode estar mostrando um processo histórico de integração do índio aos hábitos e costumes urbanos da sociedade brasileira.

Entretanto, chama a atenção o salto da participação desse povo meio rural, identificado no ano passado (de 19,8% para 27,6%). Muito provavelmente, o fenômeno tenha sido conseqüência de alguma mudança metodológica do IBGE que, erroneamente, não foi aplicada na contabilização dos anos anteriores.

Mas o mais curioso do quadro abaixo é a elevada participação dos definidos como pardos na habitação do interior do Brasil. Esse grupo equivalia no ano passado a 43,8% da população nacional, só perdendo para os identificados como brancos (48,4%). Mas especificamente no meio rural, a participação dos pardos chegou a 54,7% do total de habitantes.

Este desequilíbrio pode ter várias justificativas. Mas deixemos para os sociólogos a identificação dos motivos pelos quais tal concentração ocorre.

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