terça-feira, 13 de outubro de 2009

As Exportações da Indústria Brasileira Continuam Derretendo

Em setembro o dólar abriu em R$ 1,8829 e fechou a R$ 1,7781. Hoje a moeda brasileira está sendo cotada a R$ 1,739. Então, no mês passado a moeda brasileira se valorizou 5,9% e mais 2,2% na primeira metade de outubro.


Considerando que o ponto mínimo de viabilidade exportadora para a indústria brasileira mais intensiva em mão-de-obra é de R$ 2,25 por dólar, não surpreende que as vendas internacionais do país continuem despencando ladeira abaixo, quando comparadas com o mesmo período do ano anterior.

E foi isso o que aconteceu em setembro. O fechamento exportador em US$ 13,86 bilhões representou uma queda de 30,7% diante do mesmo período do ano passado. E foi a indústria o setor que mais deixou de vender, com retração de 38,7%, seguida pelos minérios (-37,2%) e agronegócios (-15%).

Quem culpa apenas a crise global pela situação aqui colocada está padecendo de falta de visão, ou de falta de vergonha na cara.

Aos poucos, o mundo vai se recuperando do baque do colapso financeiro iniciado em 2008, com os países de maior intensidade exportadora gradativamente recuperando terreno. As perdas norte-americanas, nessa mesma medida, estão em 18% (base agosto); as chinesas em 23%; e Japão 28%.

Em resumo, o Brasil é o país de relevância econômica que mais tem sido penalizado com a queda das vendas internacionais. E isso se deve aos problemas cambiais do país, enfatizando que o agronegócio não consegue mais segurar a peteca.

A ilustração abaixo mostra essa lamentável situação em termos anualizados. A perda das vendas industriais já chega a 25% na comparação com os doze meses compreendidos entre outubro de 2007 e setembro de 2008. Em tons mais práticos, poderíamos dizer que o Brasil deixou de exportar 1 em 4 dólares que vendia há exatamente um ano.



O problema é grave. A participação da indústria na pauta exportadora brasileira chegou a 31%. Dá, então, para dizer que voltamos a ser um país de base econômica agrária e extrativista. Isso é mal.


E junto com o encarecimento do produto brasileiro no exterior pelo artificialismo da valorização cambial (dinheiro especulativo de fora entra no Brasil, detonando com o setor produtivo, mas salvando as contas públicas), o preço médio das mercadorias nacionais vem caindo. Afinal, os produtos fabris de maior valor agregado perdem competitividade (ficam muito caros no exterior), fazendo com que os industriais que insistem em exportar deprimam preços ou partam para a venda de badulaques de baixa qualidade. Em todo o caso, a margem das empresas vai para baixo da sola do chinelo.





Sinais dos tempos: no mês passado, os três principais itens da pauta internacional brasileira foram: minérios; combustíveis; e açúcar (esse último beneficiado com a quebra da safra indiano, o que encareceu o álcool no mercado interno) que, conjuntamente, foram responsáveis por 24% do total exportado pelo país. Em 2005, antes, portanto, de o Brasil começar a ter problemas agudos de desequilíbrio cambial, os destaques eram: veículos, produtos mecânicos e combustíveis (excedentes de gasolina).


Olhando tais dados, fica claro que o nosso país perdeu qualificação de produtos. E se deixamos de exportar produtos industriais, isso significa, também, que o mercado interno está mais propenso a importar tais produtos, duplicando a fonte de perdas da indústria brasileira.

E quem fala de recuperação de emprego das fábricas está enrolando o público.

Logicamente, para fazer frente às encomendas das festas de final de ano, o número de vagas aumenta entre setembro e novembro, na comparação com os meses anteriores. Mas no comparativo realmente honesto: mesmo período do ano passado, os resultados são desastrosos. De acordo com o Ministério do Trabalho (CAGED), em agosto do ano passado o país contava com 603,4 mil industriários (emprego formal). No mês retrasado (agosto/09) esse número havia caído para 548,8 mil.

Ou seja, quase 55 mil pessoas ficaram desempregadas na indústria. Grande parte desse contingente ainda teria seu trabalho caso as autoridades federais optassem por algum tipo de controle da entrada de capitais especulativos no país. É urgente controlar tal descontrole cambial.

O governo pode ganhar algum giro de sua dívida com a especulação atual; mas a estrutura produtiva nacional paga muito mais caro por isso.

Melhor controlar a qualidade da despesa (diminuir gastos de forma criteriosa) do que simplesmente asfixiar empresas e trabalhadores realmente produtivos.


Curtas

1) De acordo com o Boletim Focus (Banco Central), os analistas do setor financeiro apostam que o PIB brasileiro de 2009 vai crescer 0,1%. Se isso acontecer realmente, será um resultado excelente diante do contexto de crise global. Minha projeção: queda de pelo menos 1,5%.


2) Dado da ONU: a produção mundial de alimentos precisa subir 70% até 2050, para suprir a demanda crescente dos 9 bilhões de habitantes que o planeta terá naquele ano, segundo a projeção dos demógrafos. Para tanto, os países em desenvolvimento precisariam investir, anualmente, cerca de US$ 44 bilhões na agricultura, ao invés dos US$ 7,9 bilhões atuais. Afinal, serão 2,5 bilhões a mais de bocas para alimentar. Tal cenário é interessante para um país como o Brasil. Mas há controvérsias: em primeiro lugar, será que a população crescerá tanto assim? Se a resposta for sim, os problemas ambientais que nos acostumamos a discutir são pura balela. Em segundo lugar, é muito provável que em quase meio século de história os cientistas vão desenvolver novas formas de cultivo mais econômicas e produtivas. A salvação do mundo (e dos estômagos) está na super-produtividade agrícola. Aguarde novidades sobre o tema.

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